Imagine-se a viver sem entender o que sente e sem reconhecer emoções. Uma vida onde o desprezo nos olhos de alguém não tinha nenhum significado, por ser incapaz de o detectar. Um momento em que um sorriso na rua, não lhe despertava a vontade de sorrir. Viver num corpo umas vezes rígido, noutras relaxado, às vezes trémulo, outras vibrante, mas irreconhecido, por não se saber identificar o que lhe estava a acontecer. Um mundo sem palavras para definir os movimentos internos a procuram expressar-se fora.
Imaginou?
Provavelmente, estas minhas sugestões soaram-lhe tão distantes e esdrúxulas que se recusou a dar forma a um pesadelo, desprovido de uma parte essencial da experiência humana... :)
Nesta introdução, tive a intenção de o provocar, para sublinhar a importância de sermos emocionalmente inteligentes.
Inteligência emocional, composto semântico de dois significantes que há muito entraram no nosso léxico. Mas será que, independentemente, da “moda” de se falar do tema, compreendemos, de facto, o seu significado e o que representam?
Inteligência emocional, também conhecida por quociente de emoção e comummente referido como EQ, tem sido apresentado como a chave para o sucesso pessoal e profissional de cada um de nós.
1990 é a década em que as teorias sobre este tipo de inteligência tomaram forma e, desde então, muito se tem escrito sobre o tema. Para não destoar, quero fazer consigo uma sistematização dos conceitos e teorias que procuram definir, enquadrar, descrever e orientar como esta se expressa e se desenvolve.
Comecemos, então, por definir inteligência como o conjunto das características intelectuais de um indivíduo, significa isto, a sua faculdade de conhecer, compreender, discernir e interpretar qualquer fenómeno intrínseco ou extrínseco a si. Etimologicamente, a palavra “inteligência” deriva do latim intelligere, da união de inter + legere, que significam “entre” e “escolha”, respectivamente. Como resultado, temos o vocábulo que representa a capacidade humana de fazer escolhas entre as várias opções e possibilidades que se lhe apresentam.
Já emoção, deriva do latim emovere, que define a comunicação dos estados e necessidades internas de um indivíduo, como o de entrar em contacto e mover de dentro para fora.
Assim, podemos dizer que inteligência emocional é a habilidade de se eleger o movimento. Referindo-se à capacidade de realizar um raciocínio preciso sobre emoções e fazer uso do conhecimento emocional para melhorar o pensamento. O indivíduo emocionalmente inteligente, entende e gere emoções.
A teoria inicial da inteligência emocional descrita por Peter Salovey e John Mayer em 1990, derivou dos estudos sobre as Inteligências Múltiplas de Howard Gardner. Sendo a inteligência emocional um aprofundamento e especificação das inteligências intra e inter pessoais de Gardner. A diferença entre inteligência emocional e as inteligências intra e inter pessoais, é que esta não se esgota num senso geral de si mesmo e na avaliação dos outros mas, sobretudo, está focada no reconhecimento e no uso dos estados emocionais do eu e dos outros, para a regulação do comportamento e na resolução de problemas.
Alargando a nossa visão e abrangência, é importante referir que existem três modelos principais de inteligência emocional. São eles:
O Modelo de Desempenho de Daniel Goleman
O Modelo de Competências de Bar-On
O Modelo de Habilidades de Salovey, Mayer e Caruso
Olhemos agora para cada um deles com maior detalhe!
MODELO DE DESEMPENHO DE GOLEMAN
Segundo Daniel Goleman, a inteligência emocional resulta de um conjunto de 5 capacidades ou competências: autoconsciência, autorregulação, automotivação, empatia e competências sociais.
AUTOCONSCIÊNCIA
Descreve a capacidade de reconhecer e entender as próprias emoções, bem como a noção de como as emoções, humores e acções de outrem nos afectam. Além da capacidade de identificar emoções correctacmente, a auto-consciência pressupõe a percepção, acompanhamento e compreensão das diferentes reacções emocionais.
Inclui a capacidade de reconhecer como o que sentimos influencia o que fazemos. Bem como, o conhecimento dos pontos fortes e limitações pessoais, a abertura a novas ideias e experiências, acrescido da capacidade de aprender com as interacções sociais.
AUTORREGULAÇÃO
Refere-se à expressão proporcional e apropriada da emoção. Saber autorregular-se inclui ser flexível, saber lidar com a mudança e gerir conflitos. Basicamente, significa saber gerir e adequar a expressão emocional ao desempenho e resultados pretendidos.
AUTOMOTIVAÇÃO
No enquadramento da inteligência emocional, motivação refere-se à motivação intrínseca. Quer isto dizer, que um indivíduo atende às suas necessidades e objectivos pessoais em detrimento de se motivar por recompensas externas. Ou seja, a fonte da sua acção encontra-se no seu interior.
EMPATIA
A capacidade psicológica de entender o que outra pessoa está a sentir, isto é, ser capaz de sentir o que sente outra pessoa, caso estivesse na mesma situação e circunstância que ela. Procurar compreender emoções e sentimentos de outros, colocando-se na sua pele, permite que um indivíduo responda adequadamente a outro, com base no reconhecimento das suas emoções.
COMPETÊNCIAS SOCIAIS
Este componente diz respeito à capacidade de se relacionar, adequadamente, com outras pessoas. Refere-se à compreensão das próprias emoções, bem como às dos outros, de forma a saber como interagir e comunicar com cada momento.
Tratam-se de habilidades sociais como escuta activa, comunicação verbal e não verbal congruente, liderança e consolidação de relacionamento.
Goleman acrescenta ainda, que estas 5 competências são a base para 12 subescalas de inteligência emocional no contexto de trabalho, sugerindo ser necessário considerar:
Autoconsciência emocional;
Autocontrolo emocional;
Adaptabilidade;
Orientação para a acção;
Perspectiva positiva;
Influência;
Coaching e mentoria;
Empatia;
Gestão de conflitos;
Trabalho em equipa;
Consciência organizacional;
Liderança inspiradora.
MODELO DE COMPETÊNCIAS DE BAR-ON
Para Bar-On a inteligência emocional resulta de um sistema de comportamento interconectado, composto por competências emocionais e sociais, defendendo que estas duas competências influenciam directamente o comportamento e o desempenho.
Este modelo consiste em 5 escalas: autopercepção, autoexpressão, interpessoalidade, tomada de decisão e gestão do stress.
À semelhança do modelo anterior, também este sugere o desdobramento das 5 escalas em 15 subescalas:
Auto-estima – Quão o indivíduo se sente bem na sua “pele”;
Auto-realização – Nível de compromisso com a própria satisfação;
Autoconsciência emocional – Grau de facilidade em entender o que sente;
Expressão emocional – Grau de facilidade em expressar aquilo que sente;
Assertividade – Grau de facilidade com que defende as suas opiniões, direitos e pontos de vista;
Independência – Grau de independência de outros na tomada de decisão;
Relações interpessoais – Quão sociável é o indivíduo;
Empatia – Nível de sensibilidade aos sentimentos de outras pessoas;
Responsabilidade social – Quão um indivíduo gosta de ajudar outras pessoas;
Resolução de problemas – Forma como encontra soluções;
Teste de realidade – Como lida perante mudanças e novas circunstâncias;
Controlo de impulsos – Como controla, por exemplo, a raiva;
Flexibilidade – Grau de facilidade com que se ajusta a novas condições;
Tolerância ao stress – Grau de facilidade com que lida com problemas e perturbações;
Optimismo – Como encara diferentes circunstâncias e acontecimentos.
De acordo com Bar-On, estas competências, que compõem a inteligência emocional, são impulsionadoras e potenciam o comportamento e o relacionamento humano.
MODELO DE HABILIDADES DE SALOVEY, MAYER E CARUSO
Neste modelo sugere-se, que as informações resultantes da compreensão e direccionamento das emoções são usadas como facilitadoras do pensamento e orientadoras da tomada de decisão.
Este mapeamento da inteligência emocional, compreende 4 segmentos: percepção da emoção, uso da emoção, entendimento da emoção e gestão da emoção.
Tratam-se de quatro áreas ordenadas entre o reconhecimento da emoção até ao seu direccionamento. Mais especificamente:
PERCEBER A EMOÇÃO: ser capaz de percepcionar, reconhecer e identificar emoções nas expressões faciais e na postura de outros. Reflectindo a percepção não verbal e a expressão emocional na forma como comunica;
USAR A EMOÇÃO: manejo da emoção como facilitador do pensamento;
ENTENDER A EMOÇÃO: o entendimento da emoção inclui a capacidade de analisar as emoções, bem como ter noção das prováveis tendências emocionais ao longo do tempo, mensurando os resultados que estas produzem. Esta habilidade inclui ainda, a capacidade de discriminar e rotular emoções e sentimentos;
GERIR A EMOÇÃO: a auto-gestão emocional manifesta-se na capacidade do indivíduo definir objectivos, identificar os resultados que quer criar nas suas relações sociais e adequar o seu estado emocional ao desempenho pretendido.
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E CÉREBRO
Num estudo liderado por Aron Barbey, professor de neurociência da Universidade do Illinois, concluiu-se que a psicometria da inteligência (por outras palavras, a inteligência geral) e a inteligência emocional não são estruturas distintas, pelo contrário, ambas partilham os mesmos comportamentos cerebrais, activando as mesmas regiões do cérebro. Quer isto dizer, que são impulsionadas pelos mesmos sistemas neuronais, integrando processos cognitivos, sociais e afectivos.
Emoção e cognição não são processos separados! Citando António Damásio: "Não parece que a razão tenha qualquer vantagem em funcionar sem a ajuda da emoção. Pelo contrário, é provável que a emoção ajude a razão (...)”
Aqui chegados podemos resumir, que ser emocionalmente inteligente é ter consciência e domínio para percepcionar, conhecer, reconhecer e entender estados emocionais, humores e sentimentos, no eu e nos outros. Ter a capacidade de avaliar e expressar emoções no eu e nos outros, regular emoções no eu e nos outros e utilizá-las de forma adaptativa. São os mecanismos de adaptação das emoções que classificam o nível de inteligência emocional nos indivíduos, usando estas informações para orientar o comportamento.
O nível de inteligência emocional é directamente proporcional à capacidade de tomar decisões, solucionar questões, liderar processos, organizar, persistir na adversidade, gerir o stress, lidar com pessoas, adequar o desempenho às necessidades, aprender, desenvolver, amadurecer, manter a motivação e alcançar objectivos, tanto pessoais como profissionais.
Acredito que se alinha comigo na visão de que a inteligência emocional desempenha um papel central e determinante nas nossas vidas, pois é ela que dá o tom, a cor e o sabor às experiências de sermos humanos.
E para terminar... Como andam as suas emoções? Como está o desenvolvimento da sua inteligência emocional?
~ por Joana Sobreiro
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