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SPIRAL DYNAMICS

Continuando na senda de procurar melhor compreender o que motiva os seres humanos, neste artigo quero apresentar-lhe uma teoria fascinante, profunda , complexa e densa sobre a evolução da consciência dos indivíduos e como esta influencia os seus valores, critérios e motivações. Como ainda estamos no primeiro parágrafo deste artigo, deixe-me alertá-lo – tem muito para ler! :)


Cada um de nós tem tantas vontades diferentes, tantos objectivos distintos e tantas coisas que poderão trazer-nos um senso de felicidade, bem-estar e preenchimento.

Para alguns de nós o amor é o mais importante de tudo, para outros uma vida de conforto é o elemento fundamental, ainda para outros viver com liberdade é o pilar da sua existência, e mesmo quando partilhamos perspectivas semelhantes isso não significa que as vivamos de igual modo e a satisfação do que é para nós importante não se manifesta, nem se concretiza da mesma forma.

Será possível encontrarmos um factor comum a todos os indivíduos?

Será que conseguimos estabelecer padrões que enquadram e explicam os ímpetos individuais para existir?

Como tive oportunidade de lhe apresentar no artigo anterior sobre A Hierarquia das Necessidades de Maslow, independentemente do que queremos individualmente, toda a nossa motivação evolui para a complexidade, para experimentarmos melhores e mais altas emoções. Esta busca por preenchimento de valores mais elevados e pelo crescimento dá-nos uma noção de que avançamos de forma evolutiva à medida que as nossas necessidades vão sendo satisfeitas.


Há um grande problema com o estabelecimento das nossas metas. No geral, somos a favor do crescimento e desenvolvimento humano, mas não sabemos ao certo o que queremos dizer com isso, nem como realizá-lo. - Clare W. Graves, The Never Ending Quest


Será então possível encontrar um fio condutor que nos permita entender o caminho evolutivo que todos trilhamos, mesmo não sabendo para onde estamos a ir? Será que existe um modelo explicativo dos nossos próprios objectivos e do que estamos a tentar alcançar? Mesmo não havendo duas pessoas iguais, será que existe um padrão por trás do que motiva a nossa busca? Existirá um lugar comum, a que todos nos estamos a dirigir?

Para responder a estas e outras questões e, eventualmente, abrir outras apresento-lhe a Dinâmica da Espiral.



ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

Spiral Dynamics é o nome de uma teoria que estuda o desenvolvimento humano e social. Introduzida em 1996 por Don E. Beck e Christopher C. Cowan, num livro com o mesmo nome. Fundamenta-se na teoria psicológica, previamente, desenvolvida por Clare W. Graves, Ph.D. em psicologia pela Western Reserve University do Ohio e professor de psicologia na mesma universidade e no Union College de Nova Iorque.

Estes estudos foram iniciados na década de 1950, através de uma extensa pesquisa empreendida por Graves e, embora inicialmente se tenha focado em pesquisas do ponto se vista psicológico, rapidamente percebeu que precisava abordar o tema de forma multidisciplinar.

A pergunta que motivou o início desta ampla área de estudo em larga escala foi: “O que é um comportamento humano saudável e maduro?”. As primeiras conclusões a que chegou, é que as pessoas só diferem de opinião, devido ao seu desenvolvimento biopsicossocial e a uma variedade imensa de sistemas de valores.

O que os dados mostraram, é que o comportamento humano é fortemente motivado e determinado por sistemas de valores e crenças, e motivos internos.

Para ter ideia, a obra de Graves foi tão pioneira, interdisciplinar e extensa que não se enquadrava em nenhum movimento definido da psicologia. À teoria por si desenvolvida deu o nome de Teoria Emergente, Cíclica e de Dupla Hélice do Desenvolvimento dos Sistemas Biopsicossociais Adultos, que na sua versão abreviada, se chamou Teoria dos Níveis de Existência.

Embora os seus estudos tenham sido iniciados em 1952, a sua teoria apenas se tornou mundialmente conhecida no outono de 1970, quando Graves publicou o artigo Levels of Existence: An Open System Theory of Values no Journal of Humanistic Psychology.

Conforme referi há alguns parágrafos atrás, foram os seguidores e alunos de Graves, Don Beck e Christopher Cowan, quem desenvolveu ainda mais o seu trabalho, introduzindo as conhecidas cores e registando o nome Spiral Dynamics (SD). Spiral Dynamics é uma marca registada do National Values Center.

Posteriormente Don Beck fez contacto com o filósofo integral norte-americano Ken Wilber e, inspirados pelo trabalho de ambos, resolveram integrar os seus modelos, adicionando um “i” à dinâmica da espiral – nascendo assim a (SDI) Spiral Dynamics Integral.


DE MASLOW A GRAVES

Como certamente pode ler no meu artigo anterior (link), Abraham Maslow foi um dos primeiros psicólogos a observar adultos psicologicamente saudáveis.

Graves procurou verificar o trabalho desenvolvido por Maslow, entrevistando 1.000 alunos num intervalo de 7 anos, com a pergunta – O que define um adulto saudável?

Nesta pesquisa pode perceber que sistemas de valores respondem a esta questão, e que os valores se desenvolvem em resposta às condições ambientais, que por sua vez se moldam aos nossos valores e assim por diante.


Valores são experiências subjectivas sob as quais tomamos decisões, estabelecemos critérios, fazemos juízos de valor, nos motivamos, aproximamos ou afastamos e que nos fazem atrair ou repelir qualquer experiência, acontecimento ou pessoa nas nossas vidas.

Quando falamos em comportamento humano, sabemos que esses comportamentos são conduzidos por valores. São os valores que levam as pessoas a fazerem o que fazem, mesmo que em grande parte das vezes estes se encontrem fora da percepção consciente.

Foi então Maslow, em 1943, quem propôs que os valores humanos e as suas importâncias, evoluíam ao longo do tempo e de forma potencialmente previsível. Dando continuidade a esta premissa, Graves reconheceu que os indivíduos desenvolvem sistemas de enfrentamento e adaptação, ao longo do tempo e em resposta às exigências do ambiente em que se encontram. Embora existam elementos comuns entre a hierarquia de Maslow e a teoria de Graves, existem igualmente diferenças importantes. São elas:

  • A evolução é mais fluida e menos compartimentada do que sugeriu Maslow. Especialmente porque não há um nível fixo de auto-realização que se aplique universalmente a todos os indivíduos;

  • A evolução não se dá por uma jornada linear da sobrevivência à transcendência, pois as pessoas vão repetindo ciclos que umas vezes as direccionam e em outras as afastam;

  • Cada nível mais acima no desenvolvimento da maturidade, inclui todos os níveis anteriores, em vez de os deixar para trás.


Encontramos assim, um modelo muito mais rico e amplamente mais complexo das motivações humanas e o seu amadurecimento psicológico.

Graves faleceu em 1986 sem publicar o trabalho da sua vida. O que temos agora acesso é o resultado da informação compilada de diversos artigos e documentos deixados por si, e que hoje conhecemos por Spiral Dynamics.



A TEORIA

DA DINÂMICA DA ESPIRAL

Esta teoria cíclica emergente do desenvolvimento humano é um modelo que nos ajuda a compreender a maturidade psicológica de pessoas, empresas e a sociedade em geral. Descreve 8 níveis interligados de maturidade psicocultural do indivíduo e da sociedade, e em cada nível podemos reconhecer um conjunto de valores culturais, com importâncias e prioridades, crenças e particularidades de um determinado tipo de visão de mundo.

Sendo uma teoria do desenvolvimento, pressupõe que pessoas e nações passam de um nível para outro pela influência das suas condições de vida, da experiência particular de uma sociedade ou individual da pessoa, e a forma como encontra soluções para os problemas que se apresentam. Significa isto, que quando as condições de existência de um indivíduo, organização ou sociedade mudam, a própria mudança promove a avaliação e a transformação de crenças e valores em que até então, a sua existência, se baseava. Bem como, um problema criado num determinado contexto, encontra solução num nível distinto daquele onde se encontra.

Esta evolução ocorre num longo período de tempo, fazendo com que uma pessoa ou uma sociedade se desloque do nível onde está e se mova para um próximo nível a emergir no horizonte.

Nesta teoria da motivação humana, defende-se que a natureza do Homem é mutável e que as pessoas, diante das suas condições de vida, são capazes de se adaptar às mudanças do ambiente, criando novos modelos conceptuais do mundo, mais complexos, que lhes permitam lidar com novos desafios. Cada novo ciclo representa um modelo conceptual que inclui e supera os anteriores.

De acordo com Don Beck e Christopher Cowan, estes modelos conceptuais são organizados em torno de V-Memes.


V-Memes

Este termo refere-se a um sistema que actua como um princípio organizador. Trata-se de um agregado de concepções fundamentais ou uma espécie de inteligência colectiva que se aplica tanto aos indivíduos quanto à cultura de uma sociedade como um todo.

Memes são ideias auto-propagadas de costumes, hábitos ou práticas culturais. Um meme é manifestado sob a forma de uma visão de mundo, um sistema de valores, um nível de existência psicológica, uma estrutura de crenças, princípios organizadores, uma forma de pensar e um modo de vida.

A letra “V” antes de “meme”, cumpre a função de sublinhar que se trata de um sistema de valores.


Princípios desta dinâmica

  1. As pessoas têm a capacidade de criar novos memes;

  2. Os memes são despertados como resultado de mudanças nas condições de vida. Como resposta a essas mudanças, memes surgem, desenvolvem-se ou desaparecem;

  3. Memes movem-se em ziguezague entre os temas de auto-expressão (focado no EU) e do auto-sacrifício (focado no NÓS);

  4. Os memes surgem como ondas na espiral. Á semelhança da praia, uma onda surge, atinge o seu pico e desfaz-se, recuando com a força de uma nova onda;

  5. O movimento da espiral desenvolve-se através do aumento gradativo de complexidade nos memes;

  6. Memes coexistem como camadas de uma cebola;

  7. Os memes na espiral são agrupados em camadas de seis.


Os níveis de existência sucedem-se de maneira lógica, onde cada nível superior oferece soluções para as ineficiências do nível anterior.

Importa referir que este, não pretende ser um modelo hierárquico, logo nenhum indivíduo ou cultura se enquadra única, exacta e completamente numa só categoria, pois cada indivíduo incorpora uma mistura de concepções e valores, com variações de intensidade.

O uso de cores foi adicionada em 1970 por Don Beck e Christopher Cowan, por mera facilidade didáctica, e podemos observar que a transição se faz entre cores quentes e cores frias. Assim como o termo V-Meme, veio substituir a terminologia original de Graves.

Graves pode identificar 8 diferentes níveis, tendo deixado pouca coisa escrita sobre o último e acreditando que, no futuro, outros níveis surgirão.




O MODELO

Cada nível de valores baseia-se num conjunto de mecanismos psicológicos que evoluem ao longo do tempo para permitir a adaptação dos indivíduos e sociedades aos factores ambientais. Emergindo de forma evolutiva, a sua estrutura não é linear, nem fixa e cada nível inclui a informação do nível anterior.



À medida que um indivíduo muda de um nível para o seguinte, este movimento dá-se em duas dimensões – de um lado temos a orientação individual e do outro, a orientação da comunidade, ou seja, progride da dimensão do EU, para a dimensão do NÓS e assim sucessivamente. Não sendo fixo na sua estrutura, significa que algumas pessoas poderão avançar mais facilmente nos níveis do “eu” e outras fá-lo-ão nos níveis do “nós”.


Os primeiros seis níveis, são considerados diferentes estágios de sobrevivência e são definidos como “pensamento de primeira camada”. Do sexto para o sétimo, dá-se uma mudança revolucionária na consciência e o surgimento do “nível existencial”, também definido como “pensamento de segunda camada”.


Vamos então conhecer mais detalhadamente cada um dos 8 níveis. Optei por lhe apresentar a informação com as cores.


V-Meme NÍVEL 1

BEGE: Arcaico-instintivo | SOBREVIVÊNCIA


Orientado para o EU

Reactivo. Animalístico. Instintivo. Automático. Reflexo.

População: Segundo Don Beck, representa cerca de 0,1% da população adulta mundial e 0% das pessoas no poder


Contextualização:

  • O mundo é baseado nos imperativos biológicos de sobrevivência;

  • Necessidade básicas de alimento, hidratação, abrigo, reprodução e conforto;

  • Instintos do Homo Sapiens, expressa-se através da satisfação de necessidades fisiológicas urgentes;

  • Dificilmente encontrado no mundo moderno;

  • Desprovido de estrutura social;

  • Pode ser verificado na fase inicial do ciclo de vida em bebés recém-nascidos ou em pessoas em situação de risco de vida;

  • Pode ainda ser identificado em moradores de rua, pessoas em pobreza extrema ou em situações de pós-guerra ou catástrofes naturais.


Neste nível o cerne do impulso é a sobrevivência básica, onde o comportamento resulta de uma reacção reflexa das necessidades primárias para se manter vivo hoje, não há consciência ou reflexão, cujo comportamento é instintivo e automático.

Segundo Graves, não é comum encontrarmos pessoas a viver neste nível, pois está descrito como um nível em que indivíduos vivem sozinhos, procurando satisfazer necessidades básicas de sobrevivência no dia-a-dia. Descrevendo-o como um estágio pré-social animalístico.

Pode ainda relacionar-se ao período infantil e ao estágio sensório-motor de Piaget, mas é importante ter em conta que a teoria de Graves foi estuda e aplicada em adultos.

Indivíduos no nível 1 podem perecer caso não encontrem recursos para a sobrevivência ou poderão precisar de ser cuidados por outros de níveis superiores.

A transição para o nível 2, dá-se pela autossuficiência, ou seja, quando o individuo está apto para suprir as suas necessidades primárias e pode sobreviver. Neste momento, torna-se consciente de novos desafios que resultam de estar sozinho.

Quando uma pessoa de nível 1 reconhece os benefícios de estar com outras pessoas, cujo grupo representa um melhor suporte para a sobrevivência, ela poderá transitar para o nível seguinte.


V-Meme NÍVEL 2

ROXO: Ordem Tribal | TRIBO


Orientado para o NÓS

Comunidade. Lealdade. Inclusão. Fidelidade. Grupo. Misticismo. Superstição.

População: Segundo Don Beck, representa cerca de 10% da população adulta mundial e 1% das pessoas no poder


Contextualização:

  • Ordem tribal descrita como mágico-animista ou animista-tribal;

  • Este é o nível mais puro das culturas tribais e tradicionais ancestrais;

  • A unidade do grupo torna-se o centro da acção;

  • A adoração dos costumes e a prática de costumes ancestrais formam a unidade do grupo;

  • O mundo é visto como misterioso, possuidor de espíritos bons e espíritos maus;

  • Utilização de totens e símbolos sagrados como protecção;

  • Crença em presságios, sorte, magia e rituais, bem como a busca por prever o futuro;

  • Na sociedade ocidental, podemos encontrar características deste nível de forma mais diluída em grupos militares, clubes, unidades familiares fortes, cultos, grupos sociais e organizações com fortes laços de fidelidade e lealdade a um líder dominante.


Neste nível os indivíduos percebem que estando sós tornam-se fracos, sendo o grupo uma unidade de força. A lealdade entre as pessoas do grupo assegura a sua continuidade e sobrevivência. A tribo, o chefe da tribo e os ancestrais, representam o mais importante da vida. A protecção uns dos outros é resultado da lealdade incondicional.

Qualquer fenómeno encontra explicação em ocorrências sobrenaturais, acreditando-se na intervenção de seres espirituais como responsáveis pelos acontecimentos da vida.

Objectos inanimados, bem como plantas e animais, têm o poder e a capacidade de afectar os indivíduos e o meio, tanto de forma positiva como negativa, benevolente ou maléfica.

A estabilidade e perenidade dadas pela sobrevivência do grupo, promovem o desenvolvimento da linguagem, cultura e costumes, que vivem em harmonia com a natureza, plantam e criam animais.

Sendo uma unidade focada no grupo, onde pessoas vivem juntas, com o poder e a autoridade concentrados em uma ou em muito poucas pessoas, a igualdade e a conformidade tornam-se necessárias para a manutenção da estabilidade. Interesses individuais são contraproducentes para os interesses do grupo. Cada pessoa desempenha um papel e presta um serviço ao grupo, tendo as suas funções rigidamente definidas. Habitualmente encontramos um chefe ou xamã e, possivelmente, um conselho de anciãos, que tomam decisões e determinam acções futuras. Os membros do grupo cumprem as ordens dos líderes, pois não há tomada de decisão colectiva.

Havendo clareza sobre o papel e função de cada um, surge a especialização do trabalho, a expressão artística ganha espaço através do canto e da dança, do artesanato, da pintura e escultura, de jogos e música.

Quando os indivíduos do grupo começam a sentir necessidade da sua expressão pessoal e de desenvolver a sua autoridade pessoal, começam a transição para o próximo nível.


V-Meme NÍVEL 3

VERMELHO: Dominante | EGOCÊNTRICO


Orientado para o EU

Poder. Potência. Controlo. Domínio. Gratificação imediata. Exploração. Força.


População: Segundo Don Beck, representa cerca de 20% da população adulta mundial e 5% das pessoas no poder


Contextualização:

  • O explorador egocêntrico, os deuses e senhores fortes – este é o nível onde se expressa a mentalidade egocêntrica e da expressão do poder pela força;

  • Satisfação dos desejos pessoais, sem culpa;

  • Sempre na defensiva, a máxima é dominar para não ser dominado;

  • A realidade é vista como um mundo de força, agressão, raiva e egoísmo, onde o sucesso se atinge pela imposição do respeito e evitando a vergonha;

  • A lei do mais forte, não vê limites para alcançar o que quer, preocupado com o seu próprio ganho;

  • Neste nível há um controlo mínimo dos impulsos, falta paciência, sem capacidade de planear e medir as consequências das suas acções;

  • Poder egoísta sobre si mesmo, os outros e a natureza;

  • Encontramos este tipo de mentalidade nos gangues de rua, na população prisional e nos guardas prisionais, onde o controlo só é possível pela contenção ou ameaça de punição física.


Onde houver um indivíduo de nível 3, encontramos resistência, ousadia e acção. O importante é ser forte, pois os mais fortes sobrevivem, para isso há que ser determinado e destemido. Facilmente se apega ao poder, pois não confia em mais ninguém para além de si próprio.

Não reconhece outra autoridade além dos seus próprios impulsos, é por isso que uma sociedade de nível 3 pode ser, potencialmente, mais perigosa e destrutiva que qualquer outra, em qualquer outro nível. Pessoas de nível 3 são independentes e anti-sociais, possuidoras de fortes auto-imagens positivas e muita energia, recusando-se reconhecer os limites de si mesmos ou da sua condição. Pelas mesmas razões, procuram estímulos físicos e emocionais fortes, daí estarem sempre prontos para a acção e sentirem atracção pelo risco.

Encontramos a expressão de nível 3 em criminosos impiedosos e nos heróis, dispostos a arriscar a sua integridade física e até a sua vida por uma causa. Significa isto, que temos duas extremidades de nível 3 e a nossa sociedade despreza uns e canoniza outros.

Tenha em conta que as pessoas de nível 3 começaram a pensar por si mesmas, logo irão testar os limites da autoridade em qualquer oportunidade que se lhes apresente.

Lidar com pessoas de nível 3 exige um professor, treinador, pai, chefe duro e poderoso, que não tenha medo, alguém que os enfrente no seu próprio nível, quer isto dizer, que é necessário feedback imediato, ou pela gratificação imediata por um comportamento adequado ou pela punição imediata, perante um comportamento incorrecto.

Estas pessoas têm um orgulho intenso movido pelo ego, e procuram evitar a vergonha e a humilhação, logo uma forma de conter os seus impulsos será a exposição ao grupo ou pelo castigo físico.

As pessoas de nível 3 não funcionam bem em equipa, a menos que a sua equipa seja colocada em situações de grande competição e em circunstâncias práticas e físicas, de utilidade imediata. É comum que treinadores de equipas desportivas tenham que lidar com este nível, facilmente encontramos nível 3 no futebol, basquetebol, boxe, rúgbi, etc, será menos provável vê-los participar em desportos mais estéticos, como patinagem ou ginástica acrobática.

A transição para o próximo nível ocorre porque estas pessoas envelhecem, a noção de perda de poder, advindo da própria idade ou pela existência de um outro ainda mais forte e poderoso, inverte a sua hierarquia de domínio e este tipo de mentalidade torna-se um problema. Uma estrutura de valores de nível 4 começa a abrir-se quando estes indivíduos começam a perceber que há benefícios em controlar os seus impulsos e que viver entre pessoas com regras, dá-lhes a possibilidade de viver em paz e harmonia, com controlo e estabilidade.


V-Meme NÍVEL 4

AZUL: Absolutista/Conformista | ORDEM


Orientado para o NÓS

Sistemas. Autoridade. Justiça. Lei. Obrigação. Estabilidade. “Verdade”.


População: Segundo Don Beck, representa cerca de 40% da população adulta mundial e 30% das pessoas no poder


Contextualização:

  • Ordem mítica absolutista baseada na obediência;

  • Há um poder justo e um propósito no caminho, e o caminho é a “verdade”;

  • Para Ken Wilber este estágio é o âmbar;

  • A moral da sociedade é feita de ordem, responsabilidade e regulamentos;

  • Forte senso do que é certo e errado, com exigência de obediência à autoridade;

  • O sucesso é manter a estabilidade e punir quem a desafia;

  • As recompensas virão no futuro e até lá, é exigido trabalho duro;

  • Reconhecido em organizações absolutistas ou religiões estritas – as religiões monoteístas começam a surgir neste nível;

  • Graves e Don Beck referem-se a esta camada como o nível da "santidade", mas uma ordem ou missão pode ser secular ou ateísta.


Focados no grupo e na harmonia dos sistemas, este nível quer regras e acordos claros, pois estes são criados para garantir que tudo corra bem e de forma ordenada.

Sendo o segundo dos níveis de sacrifício, os indivíduos já não se sacrificam pelo líder da tribo, mas pelo “único caminho verdadeiro”.

Caracterizado pela conformidade, obediência, estabilidade, sacrifício e trabalho duro, as pessoas deste nível são cidadãos bem comportados e trabalham muito para obter recompensas futuras. Há disciplina e compromisso com a “verdade” e o “caminho”.

A procura por um significado na vida faz emergir a noção de existência contínua no pós vida, Céu e Nirvana surgem como recompensa do trabalho árduo, sacrificial e obediente durante toda a vida.

Estando num estágio de grupo, as pessoas deste nível tendem a afiliar-se a diferentes grupos que reflictam estes valores. Organizações fraternas, grupos sociais e comunitários, religião organizada e serviços de caridade são alguns dos exemplos.

É neste nível que surge a definição de objectivos, o planeamento de longo prazo, a paciência e o controlo de impulsos se desenvolvem, levando ao surgimento de planos de reforma, segurança social e pagamento de impostos, criando assim um senso de alinhamento com o que é certo e vivendo de acordo com as regras sociais.

Aqueles que acreditam no mesmo caminho são vistos como aliados, todos os outros tornam-se o inimigo. Pessoas de nível 4 são facilmente reconhecidas pelo seu pensamento digital, quer isto dizer, ou é uma coisa ou é outra, coisas como bom/mau, certo/errado, preto/branco, nós/eles, fazendo com que categorizem e rotulem pessoas, problemas e processos. Esta mentalidade não aceita zonas cinzentas, apresentando séria dificuldade com o pensamento analógico.

O poder é conquistado por se ser exemplar no cumprimento das regras do jogo, e por isso encontramos hierarquias de poder neste nível. O organigrama de uma empresa é exemplo disto, cada pessoa sabe em que nível da hierarquia está e é, perfeitamente possível, a mesma pessoa ter superiores e subordinados, simultaneamente.

O nível 4 é o primeiro estágio onde surge o conceito de culpa. O não cumprimento de regras e o comportamento inadequado perante o grupo é punido e reprimido pelo sentimento de culpa.

Este grupo promove a justiça, a equidade e o tratamento uniforme entre aqueles que são iguais entre si, pois outros grupos poderão ser discriminados ou destruídos. É neste nível que surge o patriotismo e o orgulho das nações, sendo a guerra uma das suas actividades. A guerra é possível porque este tipo de mentalidade precisa de um sistema de polaridade para se opor.

Como as estruturas do nível 4 emergem das estruturas de nível 3, inevitavelmente que encontraremos pessoas de ambos os níveis dentro da mesma sociedade, por essa razão lei e ordem para controlar pessoas de nível 3 é tema frequente e consistente nas sociedades de nível 4.

Quando os indivíduos deixam de querer esperar por recompensas futuras, querendo usufruir das recompensas dentro da própria vida e de forma antecipada, e se questionam “porque esperar?”, começa a abrir-se o nível seguinte. A boa vida deseja ser vivida agora e não mais tarde. O trabalho duro e as recompensas materiais são levadas para o nível 5, mas o sacrifício pelo grupo é abandonado.


V-Meme NÍVEL 5

LARANJA: Materialista/Racional | SUCESSO


Orientado para o EU

Conquista. Empreendedorismo. Status. Ambição. Estratégia. Abundância. Realização.


População: Segundo Don Beck, representa cerca de 30% da população adulta mundial e 50% das pessoas no poder


Contextualização:

  • Cumprimento de metas flexível, abordagem cientifica e estratégica;

  • Expressado na revolução industrial e científica;

  • Atingir objectivos de sucesso para si, ao mesmo tempo que se trazem benefícios para outros ao seu redor;

  • Motivação pessoal e empresarial – capitalismo empreendedor;

  • Compromisso com as melhores oportunidades para si mesmo;

  • Metas e resultados – o mundo está cheio de oportunidades;

  • Cultura que impulsiona o “sonho americano”;

  • Aspectos não saudáveis podem estar baseados na ganância e no egoísmo.


Neste nível a vida, o mundo e a existência são vistos como um grande recreio de liberdade pessoal, abundância, realização e fruição de recompensas materiais. Aqui encontramos a busca por prestígio e popularidade, pelo uso habilidoso da criação de riqueza através da inovação, ciência e tecnologia. Se quer algo, avance, faça e terá sucesso, não se deixando parar por ninguém, pois os resultados são as únicas coisas que contam.

Repare que cada nível de valores evolui como reacção ou contraponto do nível imediatamente abaixo, significa isto que o nível 5 surge quando um indivíduo já não quer mais viver dentro da rigidez previsível do grupo e decide perseguir o seu sucesso individual e usufruir durante a vida dos resultados do seu esforço. Este é um nível de construção do poder pessoal, não pelo poder da força do 3, mas pela habilidade de usar o sistema do 4.

Aqui encontramos a origem da filosofia da abundância, cujo objectivo primeiro é tornar as coisas melhores e melhorar de estilo de vida. Os nível 5 querem o paraíso na terra, agora, na forma de riqueza e posses materiais. Se um pouco é bom, mais é melhor ainda. Sendo este um nível de EU e auto-expressivo como o nível 3, estas pessoas estão disposta a correr riscos, mas também aprenderam a estabelecer objectivos, planear e seguir regras do nível 4.

Os objectivos pessoais tornam-se prioridade e o tempo passa a ser um recurso escasso. À semelhança do que lhe referi no nível 3, aqui também encontramos dois extremos, de um lado do espectro temos uma extremidade que envolve a exploração de pessoas e recursos para fins lucrativos, já do outro temos um nível 5 que investe em si e nos seus para que todos melhorem. Este é o primeiro estágio em que relações win-win são possíveis e a delegação de poder de decisão existe.

As pessoas de nível 5 são altas consumidoras de tecnologia, sentem-se atraídas pela competição e investem em conhecimento que os ajude a melhor alcançar os seus objectivos pessoais.

O final do século XIX e início do século XX são marcados pelos empreendimentos de nível 5, cujo crescimento foi exponencial, sem ver limites. Um século volvido, temos questões ambientais urgentes, como poluição, obsolescência programada e esgotamento de recursos naturais, sendo este o lado nocivo da ambição deste nível.

Quando uma pessoa deste nível alcançou a maioria dos seus objectivos, começa a tornar-se evidente que há um alto custo associado à destruição do meio ambiente, à possível exploração de trabalhadores, devido ao interesse excessivo no lucro e sucesso material. Neste momento, alguns indivíduos poderão ficar desiludidos e cansados de tanto “correr” e começar a questionar se o preço de alcançar objectivos vale mesmo a pena ser pago. Em muitos casos, o tempo e energia que dedicaram às suas conquistas, fizeram-nos alienar o lado humano da vida, afastando-os da família, levando-os a experimentar uma sensação de vazio. Aqui começa a abrir-se o próximo nível.


V-Meme NÍVEL 6

VERDE: Igualitário | COMUNITÁRIO


Orientado para o NÓS

Grupos. Causas. Pessoas. Igualdade. Equidade. Paz interior. União. Harmonia.


População: Segundo Don Beck, representa cerca de 10% da população adulta mundial e 15% das pessoas no poder


Contextualização:

  • Abordagem relativista-personalista, comunal/igualitária;

  • Expressado no pluralismo da década de 1960 e na teoria dos sistemas;

  • Bem-estar humano e consenso;

  • Sacrifício dos interesses pessoais agora, para viver em harmonia com todos;

  • Orientados para o bem-estar e união da comunidade, em harmonia com todos os ecossistemas;

  • Perspectiva social de trabalho conjunto e interajuda;

  • “Make love not war”;

  • Fortemente anti-hierárquico, com sistema de valores relativísticos, apoiados no multiculturalismo e na diversidade.


Neste nível o mundo material é percebido com um vazio espiritual, a pedir o reencontro com o amor, a paz interior e o cuidado uns com os outros. O mote é – as pessoas são mais importantes que as coisas.

Surgido na década de 1960, nasce pela oposição aos sistemas reinantes de níveis 4 e 5, movimentos ambientais, movimentos feministas, direito das minorias, direito dos animais, movimentos contra a guerra e pela paz, são alguns dos exemplos de valores que emergiram neste período.

Valores como igualdade, humanismo e paz, defendendo a distribuição da riqueza por todos os estratos sociais, com ênfase nas emoções, nos sentimentos, na harmonia e na aceitação da diversidade humana.

O nível 6 surge para proclamar que o mundo precisa de uma comunidade espiritual que dirija os esforços do grupo, onde o crescimento pessoal e a consciência se tornam as palavras-chave do movimento do potencial humano e da Nova Era.

Ao contrário das pessoas de nível 5, que dedicavam tempo e atenção a objectivos materiais concretos, as pessoas deste nível têm objectivos abstractos, subjectivos e intangíveis, como paz, liberdade, felicidade, igualdade e amor.

Estamos a falar de um tipo de mentalidade que pode estar fora do contacto com as realidades mais duras da vida, vendo o mundo a partir da sua “bolha de cura” ou com óculos cor-de-rosa. Surgem grupos de apoio, meditação e espiritualidade, para que os indivíduos se reúnam para curar as suas almas feridas das devastações provocadas pelos níveis 4 e 5.

Ressurgem interesses por muitas actividades de nível 2, como rituais de cura, antigos sistemas de medicina como a chinesa e a ayurvédica, rituais de purificação de tribos nativas e toda a área da medicina alternativa.

Encontramos pessoas neste nível que podem ser divididas em dois extremos, aquelas que não aceitam quem não partilhe das mesmas visões, querendo converter tudo e todos à sua forma de pensar, com fervor evangelizante e outras, com uma atitude mais tolerante e relaxada do tipo “vive e deixa viver”.

A comunicação e a interacção pessoal tornam-se, igualmente, valores fundamentais. O centro de decisão é aberto a todos, onde todos participam, pois gostam de aprender uns com os outros e ampliar as suas redes de associados. Neste caso, surgem algumas questões problemáticas, pois o desejo de colaboração e reconciliação arriscam atrasar a tomada de decisão e a falta de respostas fortes e efectivas para questões difíceis. No limite um 6, apesar das suas fortes opiniões, pode não tomar decisões e se tiver alguém de nível 5 que o sustente, poderá passar a vida toda a “curar-se”.

Estas pessoas são, geralmente, bem intencionadas, mas muito pouco eficazes. Estão tão preocupadas com os sentimentos de todos, que não fazem nada e há pouco desenvolvimento de conhecimento. A constatação do seu fracasso na cura do mundo é catalisador para a transição para o próximo nível.



O fim do v-meme verde, traz à consciência humana um salto quântico. Clare Graves definiu-o como um salto importante para aquilo que designou de “pensamento de segunda camada”.

Esta consciência de “segunda camada” é caracterizada pela possibilidade que um indivíduo tem de pensar tanto vertical, quanto horizontalmente. Pela primeira vez, a pessoa cobriu todo o espectro do seu desenvolvimento interno, podendo assim ver cada nível e reconhecer que cada meme é fundamental para o equilíbrio e evolução de toda a espiral.

A grande diferença nesta estrutura de pensamento, é que até ao nível 6, caracterizado por “pensamento de primeira camada”, cada meme só se vê a si mesmo, desvalorizando todos os outros. Cada um dos memes de “primeira camada” acredita que a sua visão de mundo é a melhor e a mais correcta e, caso seja desafiado, poderá reagir negativamente.

Tudo isto muda quando chegamos ao nível 7, pois o “pensamento de segunda camada” está, plenamente, consciente dos diferentes estágios de desenvolvimento interior, incluindo-os a todos, podendo assim, pensar com toda a espiral.

Segundo Graves, trata-se da chegada a um novo reino, o reino da sobrevivência mental e emocional, não da sobrevivência física.



V-Meme NÍVEL 7

AMARELO: Integrativo | SISTÉMICO


Orientado para o EU

Conhecimento. Ambiguidade. Complexidade. Sem julgamento. Interconexão. Autonomia.


População: Segundo Don Beck, representa cerca de 1% da população adulta mundial e 5% das pessoas no poder


Contextualização:

  • Abordagem integradora de todos os sistemas;

  • Satisfação dos desejos pessoais, tendo em conta o benefício de todos;

  • Menos preocupado com o ego e, por isso, disposto a assumir posições contrárias se isso se encaixar na análise;

  • Adaptação flexível à mudança, graças à sua visão sistémica;

  • O mundo e a humanidade na sua diversidade e paradoxos, precisam ser estudados, analisados e compreendidos;

  • Os desafios do mundo respondem à aprendizagem, competência, razão, ciência e design;

  • A autonomia está na sua essência, sendo pessoas válidas em si mesmas e como membros conectados da sociedade;

  • Flexibilidade, espontaneidade e funcionalidade têm a mais alta importância;

  • As diferenças e a multiplicidade podem ser combinadas e integradas em fluxos naturais e interdependentes;

  • Conhecimento e competência transcendem o poder, status ou os instintos de grupo.


Tendo percorrido todos os níveis do primeiro segmento da espiral e reconhecendo a disfuncionalidade de pessoas e grupos em todos os níveis anteriores, a pessoa de nível 7 move-se por conhecimento e total compreensão da complexidade, assim procurará maneiras de ser e de dar respostas que produzam melhores resultados.

O 7 está cansado de ser egocêntrico e andar a resolver sempre os mesmos problemas, de formas diferentes. Podendo adoptar qualquer um dos níveis abaixo dependendo dos contextos e necessidade, neste nível os indivíduos começam a aceitar-se e, com isso, aprendem a aceitar outros, independentemente do nível em que se encontrem. Valorizam a diversidade, respeitando qualquer tipo de pessoa, reconhecem a importância de agir de forma adaptada e contextual, ao mesmo tempo que apreciam as limitações e habilidades específicas de cada um dos níveis.

Status e materialismo, deixaram de o impressionar, mas é influenciado pelo conhecimento, acreditando que a informação é a chave para as soluções. Com uma mentalidade sistémica e holística, são os menos egoístas, preocupando-se mais com a competência do que com a aparência. Verdadeira sabedoria, flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de seguir o fluxo, começam a ser aqui desenvolvidos, pois a sua visão dá-lhe a perspectiva de que a sobrevivência do planeta, a longo prazo, não depende de um poderoso sistema de nível 4, da tecnologia do nível 5 ou da sinergia do nível 6, a sobrevivência perene exige conhecimento e sabedoria. A sua visão é ampla, possuidores da capacidade de ver a big picture e as suas consequência no longo prazo.

Pessoas de nível 7, sentem necessidade de se tornar mais individualista e, por isso, retiram-se de actividades de grupo, o que ao fim de algum tempo pode levá-los à solidão, por se sentirem incompreendidos.

Detestam reuniões e telefonemas desnecessários e improdutivos, preferindo trabalhar sozinhos ou em pequenos grupos, onde cada elemento tem um papel único e essencial.

Os indivíduos de nível 7 querem informação e por isso procuram-na compulsivamente, sendo provável que dediquem tempo a aprender sozinhos com livros ou pela internet.

Quando o nível 7 começa a sentir que a independência é um fardo pesado e a sentir necessidade de contacto pessoal, irão começar a procurar outros com consciência semelhante, aqui se inicia a transição para o próximo nível.


V-Meme NÍVEL 8

TURQUESA: Holístico | GLOBAL


Orientado para o NÓS

Sobrevivência planetária. Cooperação global. Metasoluções. Unicidade. Universalidade.


População: Segundo Don Beck, representa cerca de 0,1% da população adulta mundial e 1% das pessoas no poder


Contextualização:

  • Abordagem integradora que combina interesses pessoais com os interesses da comunidade global;

  • Mentalidade global e um ser colectivo como cidadão do mundo;

  • Atenção à dinâmica global e acções a nível macro;

  • Estas pessoas vêem-se como seres holísticos, membros da sociedade e personagens temporais de um quadro maior que poderá ser lembrado na história;

  • Este é o mais alto nível, já com alguma informação sistematizada da dinâmica da espiral e ao qual Clare Graves ainda fez referência;

  • Esta teoria está em processo de formação.


Os resultados das pesquisas apontam para que um grande número de indivíduos de nível 8 começaram a surgir a partir 1975. Neste nível, os indivíduos percebem que física e metafísica são a mesma coisa, conseguindo extrair o melhor, sem o pior, de todos os níveis anteriores.

É um nível de sistema holístico universal, com hólons/ondas de energias integrativas. O arquétipo do nível 8 é o centauro, pois uniu sentimento e conhecimento, tendo múltiplos níveis interconectados num sistema consciente.

A ordem universal é percebida como um sistema vivo e consciente, não baseado em regras externas do nível 4 ou nas ligações de grupo do nível 6.

Encontramos aqui o emergir de uma nova espiritualidade, como uma teia que liga toda a existência, pois este tipo de mentalidade usa a espiral completa. Capaz de perceber múltiplos níveis de interacção, forças intangíveis e fluxos que envolvem qualquer organização.

A acção sustentável é o seu ponto de partida incondicional, sendo a sua principal directriz a saúde da esperial completa, não tratando de forma especial nenhum nível específico. Com consciência dos aspectos nocivos e disfuncionais dos níveis anteriores, sobretudo os de “pensamento de primeira camada” e como alguns deles representam uma ameaça à sobrevivência do planeta, o que faz com que para o nível 8, seja aceitável erradicar ou travar aqueles que apresentem maior potencial destrutivo. É conhecido como o nível de tough love – “amor duro”.

O pensamento de nível 8 coloca tudo em perspectiva e crê que tudo acontece por uma razão. Neste ponto de vista, nada é bom ou mau, existe apenas a coisa certa a fazer.

Tudo é energia, tanto seres humanos, como a natureza ou o universo, todos se encontram interligados, formando uma unidade maior. Voltando a encontrar aqui práticas semelhantes às do nível 2. Ressurge o interesse pelo xamanismo, o misticismo e o mundo não-físico. A exploração da consciência e a percepção de níveis simultâneos de consciência, introduz um senso de espiritualidade, não religiosa, nas questões globais.

O nível 8 identifica-se com o conceito de “como acima, assim é em baixo”, reconhecendo que o microcosmos é um exemplo do macrocosmos. A conexão espiritual é combinada com tecnologia, comunicação e dados para proteger a terra.



Nota: como poderá ter verificado, as percentagens apresentadas em cada nível totalizam mais de 100%. Isto deve-se à transição entre os níveis e por existirem pessoas em mais do que um.





Valores NÍVEL 9 | CORAL: ???


A teoria de Clare Graves é um modelo em desenvolvimento. Significa isto, que não podemos afirmar que o nível 8 é o último, pelo contrário, ainda no século passado foi identificado um novo impulso acima do Turquesa, ao qual foi dada a cor Coral.

Apesar de já se ter identificado o surgimento deste tipo de pessoas, ainda é muito recente para que se possa defini-lo e fazer descrições precisas. Para grande parte da sociedade, não é sequer ainda perceptível.

Tendo por base a pesquisa de Graves, as únicas coisas que poderão ser afirmadas com certeza, é que o nível 9 está em rápido e franco desenvolvimento, acima do tempo de desenvolvimento dos estágios anteriores. Trata-se de uma nova camada focada na individualidade, logo no EU. Estas novas pessoas excederão a complexidade do nível 8 e darão resposta às suas ineficiências. Sendo um nível focado no EU, trará algumas características do nível 7.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois deste longo artigo, quero sublinhar apenas alguns pontos para ajudar a sua própria reflexão.

De acordo com Ken Wilber, um hólon, por exemplo um ser humano, desloca-se na espiral através da auto-transcendência, pois todos os hólons têm o objectivo de transcender o nível actual da sua existência, para níveis mais elevados. Quando falamos de mente humana, Wilber refere a abertura a “espaços” superiores de consciência.

Seja por problemas que nos empurram ou por objectivos superiores, o movimento para que a consciência se amplie está presente em todos nós.

O que não significa, que chegados a um novo espaço mais amplo de consciência, não possamos cair em velhos padrões ou até mesmo, aprendamos a usá-los todos. Pois em cada nível podemos encontrar valores relevantes para a nossa existência no mundo, que nos constituem e potenciam. Da autossuficiência, passámos a pertencer, da pertença aprendemos a colocar limites, os limites levaram-nos à disciplina, a disciplina levou à conquista do poder pessoal, o poder interno deu-nos a segurança para nos ligarmos e acolhermos o outro, o poder do grupo autonomizou-nos e tornou-nos interdependentes e a interdependência deu-nos uma visão global, desta iremos chegar a um novo lugar com corais. :)


Nesta nossa jornada individual e colectiva, subir de nível não é como jogar um jogo. No fim não há prémio, nem ganha quem já chegou primeiro ou mais rapidamente lá acima, ou como refere Ken Wilber, quem se aprofundou. Não existem níveis bons e níveis maus, bem como os níveis mais baixos, não são para serem evitados. Cada nível encaixa-se em determinadas circunstâncias.

Não importa o nível em que agora se encontra, pois é exactamente aquele em que precisa de estar e nele encontrará um propósito específico. E caso esteja a questionar-se – “em que nível estou? – lembre-se que é bastante provável que esteja em vários.

Poderá ser útil perceber qual o estágio que percebe ser dominante em si, qual o estágio para onde vai em momentos de stress e que novos impulsos de consciência estão a surgir em si.


~ por Joana Sobreiro



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