Quando a programação neurolinguística faz parte das nossas vidas, invariável e inevitavelmente falamos de congruência, ser congruente. Mas então o que é isto da congruência?
Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, con·gru·ên·ci·a manifesta-se na relação adequada e na devida proporção entre uma coisa e o fim a que tende.
Encontramos o termo congruência na geometria, quando nos referimos, por exemplo, que duas figuras apresentam a mesma forma e tamanho, existe congruência quando dois conjuntos de pontos se manifestam em concordância, alinhamento e similaridade.
Saindo das figuras geométricas e da relação entre as coisas e os seus fins, como definimos congruência quando falamos de indivíduos?
Para Carl Rogers, psicólogo norte americano criador da Abordagem Centrada na Pessoa, descreve-se congruência pela combinação e ajuste entre os estados internos de um indivíduo e a sua manifestação externa, ou seja, reconhecemos congruência quando há coerência entre o dentro e o fora.
“A congruência está associada à 'consciência' e constitui o 'estado’ de uma pessoa que é 'genuína', 'inteira', 'integrada', 'sem fachada', 'ajustada'; enquanto que a 'incongruência' está ligada à 'negação e distorção da consciência.'' – Carl Rogers
A consciência daquilo que nos povoa internamente a cada momento, a capacidade de reconhecer, acolher e sustentar os nossos estados emocionais e representações internas, bem como conseguir comunicá-los e expressá-los externamente, são manifestações de congruência.
Quer isto dizer, que quer estejamos entusiasmados, enternecidos, zangados ou envergonhados, a congruência é manifesta quando o que está a ser sentido se alinha com o que é dito e feito. Trata-se de um estado individual e subjectivo por ser relativo à concordância entre os diferentes elementos do modelos do mundo de um indivíduo e a coerência com que este os expressa no mundo.
Na programação neurolinguística chamamos congruência quando o comportamento (tonalidade e fisiologia) de um indivíduo, corresponde às palavras e acções que o mesmo diz e faz. Traduzido num estado de ser, completamente, unificado e sincero, onde cada aspecto do indivíduo trabalha em conjunto e na direcção de um resultado único.
Congruência é a igual sintonia entre o que pensamos, sentimos e fazemos. Significa isto, que não é apresentado um estado mental misto e não há conflito interno. Havendo um alinhamento destas três dimensões (pensamento, sentimento e comportamento), podemos ser congruentemente tristes, irritados, alegres e/ou confiantes.
Por outras palavras, ser congruente não é ser perfeito, fazer tudo bem e só sentir, dizer e fazer coisas “bonitas”. Ser congruente é ser genuíno, real, transparente, inteiro e integrado. É, como escreveu Fernando Pessoa, “ser todo em cada coisa”.
Recorrendo a um artigo publicado no ano 2000 por Steve Andreas, psicoterapeuta norte americano incontornável nos estudos desenvolvidos para a PNL, congruência é o nome que é dado quando cada fibra do nosso ser está em acordo com todas as outras. Um estado de atenção que prediz que onde quer que ela esteja, ela é indivisa, inseparável. Estejamos nós a contemplar um pôr do sol, a tomar um café com um amigo, a apresentar um projecto ou a trocar o pneu do carro, nenhuma parte de nós está num outro lugar que não seja, totalmente, imerso na experiência vivida no momento.
A fruição do momento presente sem a necessidade de estar num outro lugar ou a fazer outra coisa, sem que nenhuma parte de nós esteja a querer mudar ou acrescentar algo à circunstância que está a ser vivida, é a expressão máxima de congruência. Se me encontro, totalmente, presente, sem passado nem futuro, sem diálogo interno, sem operadores modais de necessidade, sem conflito ou desejo de outras opções e alternativas, sem negar uma parte de mim, em que tudo é agora, então posso experimentar a absoluta congruência.
A busca por congruência é, particularmente, sentida e desejada por indivíduos que se encontram em lutas internas, onde diferentes vontades se digladiam entre de si e desejam coisas distintas. Como na composição de António Variações “só estou bem onde não estou”, em que uma parte minha quer ser livre e correr o mundo com uma mochila às costas e outra, quer segurança e estabilidade, criar raízes e ter um lar. (entenda este, como um mero exemplo ilustrativo de um conflito de valores)
Numa situação como esta, a importância de se alcançar a congruência é uma questão de harmonia psíquica.
Temos, por isso, agora claro o que são os dois extremos do espectro da congruência, de um lado a total fusão com o momento presente, sem querer mudar nada e do outro, o gigante conflito que nos “rasga” por dentro.
Sabemos que um indivíduo saudável procurará alinhar o senso de quem é com o que o sente que deveria ser, facto é que, a total congruência, em todos os momentos da vida, não é possível.
Tornar o estado de congruência o Santo Graal da nossa evolução enquanto indivíduos é não só, inatingível, como indesejável. Sempre que terminamos uma tarefa e começamos outra, no momento da transição em que estamos a fazer uma escolha, a incongruência é inevitável. Quando nos deparamos com um momento em que precisamos fazer uma ponderação entre os nossos desejos internos e as oportunidades que se apresentam externamente, onde estabelecemos prioridades, comparamos cenários e fazemos projecções, estamos incongruentes. Os crescimento é possível porque somos conscientes da nossa incongruência e queremos algo novo para nós, procurando uma vez mais, restabelecer a congruência.
Reformulando, congruência é um espectro. Num contexto em que um indivíduo alinhou as suas representações internas e estados emocionais de forma a imergir e estar, totalmente, focado na experiência e no resultado que quer produzir, está congruente. No entanto, quando fora desse contexto ou quando a actividade termina, é necessário ter a capacidade de gerar dúvida, questionamento e desalinhamento, ou seja, a incongruência para fins de actualização.
Assim, o que se pretende é estabelecer um equilíbrio dinâmico, uma dança entre a congruência e a incongruência, reconhecendo que ambas são importantes e têm uma função. Este equilíbrio é mantido pela consciência, quer isto dizer que, importa reconhecer o valor desta dinâmica e ter meios para detectar quando o desequilíbrio se instalar e poder reequilibrá-lo.
~ por Joana Sobreiro
BIBLIOGRAFIA:
· “Introdução à Programação Neurolinguística” de Joseph O’Connor e John Seymour
· “Tornar-se Pessoa” de Carl Rogers
· “Transforming Your Self: Becoming Who You Want to Be” de Steve Andreas
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