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4 TEMPERAMENTOS

Uma Teoria Humoral: Sanguíneo, Melancólico, Colérico e Fleumático


Sabia que segundo alguns teóricos contribuidores para o estudo da psique humana a nossa personalidade tem uma componente fixa?

Já ouviu falar sobre os temperamentos humanos?

Alguma vez se deparou com a observação “esta pessoa tem um temperamento forte”?


A teoria humoral que dá origem aos temperamentos humanos é um estudo profundo e simbólico que influencia as características individuais da personalidade.

Então, se quem está desse lado a ler este texto, é alguém na senda do autoconhecimento, conhecer esta teoria pode ser uma grande contribuição para o desenvolvimento das suas virtudes e do seu autodomínio.


Existem quatro estações do ano – Primavera, Verão, Outono e Inverno – quatro elementos da natureza – Ar, Fogo, Terra e Água – e quatro temperamentos presentes nos seres humanos.

Os quatro temperamentos são considerados elementos de uma teoria proto psicológica que define a existência de quatro tipos fundamentais e basilares da personalidade – sanguínea, colérica, melancólica e fleumática.

Há quem aponte as suas raízes para a antiga teoria humoral mesopotâmica, mas as suas origens remontam ao século IV a.C., onde encontramos vestígios desta no Corpus Hippocraticum, uma colectânea de tratados médicos e filosóficos, criada pelo médico grego Hipócrates, considerado o pai da medicina.

Com o passar do tempo, a teoria humoral dos 4 temperamentos evoluiu, e novas e relevantes contribuições foram agregadas por Galeno, é por isso que, muitas vezes, lhe é atribuída a sua criação.

Galeno de Pérgamo, foi um médico e filósofo romano que ganhou muita popularidade na sua época a propósito das suas descobertas relacionadas com a medicina. Importa referir, que muito do que postulou teve grande influência na ciência médica ocidental.

Galeano acreditava que certos humores, emoções e comportamentos humanos eram causados ​​por um excesso ou falta de fluidos corporais. O sangue, a bílis amarela, a bílis negra e o fleuma, sendo cada um deles responsável por diferentes características da personalidade.


As primeiras tipologias de temperamento foram sistematizadas em De Temperamentis, uma dissertação que expunha as razões fisiológicas dos diferentes comportamentos humanos. Galeno, inspirado pelos quatro elementos da natureza, classificou-os como quentes/frios e secos/húmidos. Estando as propriedades destes humores relacionadas com as quatro estações. Colocando o sangue como quente e húmido, correspondente à primavera. A bílis amarela, considerada quente e seca, que correspondia ao verão. A bílis negra, fria e seca, com correspondência ao outono. E por último, o fleuma, frio e húmido, a corresponder ao inverno.




A ciência médica moderna rejeitou a teoria dos quatro temperamentos, apesar de se manter como metáfora para alguns campos da psicologia. Immanuel Kant, Rudolf Steiner, Alfred Adler, Erich Fromm, entre outros, teorizaram sobre os quatro temperamentos, embora lhes dando outras nomenclaturas, mas que influenciam até aos dias de hoje as modernas teorias do temperamento.

Importa também referir, que esta teoria continua a reunir novos contributos e, quando chegamos à teoria humoral moderna, não só se questiona a sua qualidade fixa, como se reconhece um maior número de temperamentos.


Proponho-lhe que neste artigo, nos detenhamos na teoria original, cuja compreensão poderá revelar-se de grande utilidade para o nosso crescimento pessoal e para as nossas relações sociais. Afinal, um dos pontos fundamentais, que aprendemos na PNL, é que o bom comunicador é aquele que conhece as suas características e predisposições individuais, sabe reconhecer as características do seu interlocutor e flexibiliza-se para que a sua comunicação seja efectiva.


O temperamento, no seu conceito primário, é uma estrutura fixa e imutável da psique humana, quer isto dizer, que não muda, sendo o eixo em torno do qual a nossa biografia se forma.

Sendo um eixo fixo, importa compreender a natureza simbólica de cada temperamento, que como símbolo, possui diferentes camadas de significado e entendimento.


O TEMPERAMENTO E A PERSONALIDADE

As diferenças entre temperamento e personalidade carecem de explicação. Para entendermos o que separa estes dois conceitos, vamos adoptar a seguinte definição: personalidade corresponde a um conjunto de características próprias e individuais, que se formam ao longo da vida e se desenvolvem conforme a nossa história e vivência pessoal. Quer isto dizer, que a personalidade é um processo, uma dimensão plástica que se molda e evolui até ao último dia de vida.

Já o temperamento, é uma estrutura estática e fixa, que nada mais é, do que um conjunto de tendências e características que determinam o comportamento. Sendo algo inato, que nasce connosco e que, interiormente, nos constitui, é a partir dele que construímos a nossa percepção do mundo, desenvolvemos habilidades e atribuímos significado aos nossos valores. Ou seja, não muda ao longo do tempo, estando aqui o elemento fundamental da diferença destes conceitos – a personalidade pode mudar, ao contrário do temperamento.

É a partir do temperamento que formamos a personalidade, e à medida que adquirimos mais conhecimento sobre ele, identificando qual dos quatro temperamentos predomina em nós, torna-se possível trabalhá-lo de modo a moldar os nossos comportamentos e personalidade, sem ferir ou corromper os nossos valores e consciência.


QUAIS SÃO OS 4 TEMPERAMENTOS?

Os temperamentos imprimem características à nossa alma (alma no conceito filosófico e psicológico, não no religioso) e quando esta é atingida por acontecimentos externos ou por fenómenos internos, como os próprios pensamentos, dão forma ao nosso comportamento.

Ao reconhecermos esta estrutura fixa, é-nos possível responder a questões como: “o que me conduz?”; “que sentimentos me detêm?”; “como reajo quando sou elogiado ou ofendido?”; “o que me faz aproximar ou repelir alguém?”

Ao reconhecer o seu temperamento predominante, sabendo que não existe ninguém com um temperamento puro, pois somos uma mistura de todos. Mas, apesar disso, é possível reconhecer aquele que nos estrutura em maior grau. A sua identificação, permite-nos olhar para nós próprios e entender a motivação por detrás de alguns comportamentos, corrigir atitudes e desenvolver a nossa personalidade. Para isso, aproveite a leitura dos próximos parágrafos como uma oportunidade para se autoanalisar e desenvolver o seu autoconhecimento.


O TEMPERAMENTO SANGUÍNEO

Tendo a comunicação como a sua maior virtude, resulta da junção dos elementos quente e húmido, e o seu símbolo é o ar. O ar, está presente e envolve todo o espaço, todos os lugares, é o ar que faz com que a vida aconteça. A sua estação é a Primavera.

O temperamento sanguíneo é reconhecido em pessoas que são naturalmente alegres e simpáticas, afáveis e prestativas, com as emoções à flor da pele, são sensíveis, expansivas e têm prazer em estabelecer relações com outras pessoas. A sua riqueza afectiva, torna-o cativante, pois a interacção e a conexão estão em primeiro lugar.

Pessoas curiosas, assertivas, com interesses por diversos tipos de conhecimento, são possuidoras de muita energia volátil, o que as pode tornar inquietas e espontâneas.

Este temperamento, reage às experiências de forma rápida e curta, quer isto dizer que o sanguíneo é rápido, mas pouco profundo, fazendo com que seja mais inconstante, passando do riso ao choro muito rapidamente.

A sua natureza inconstante, exige cuidado quando toca a situações que exigem dedicação. Estamos perante alguém voltado para as coisas exteriores, assim, é importante que encontre fora de si uma via nobre e elevada.


O TEMPERAMENTO COLÉRICO

A liderança é o seu ponto forte. Resultado da conjugação dos elementos quente e seco, o seu símbolo é o fogo. A sua estação é o Verão. O colérico, move-se e entusiasma-se com e por tudo o que é grandioso. Assim como o fogo, aspira à ascensão.

Reconhecemos este temperamento em pessoas que são mais voltadas à acção do que ao pensamento, pois o colérico tem a característica de expandir e marcar.

Com características explosivas, a cólera é uma das suas expressões, facilmente irritável, reage rapidamente aos acontecimentos, o que revela pessoas práticas, ambiciosas, possuidoras de um comportamento dominador.

Diante de um impacto, a sua resposta é rápida e a sua acção perdurável, ou seja, as marcas ficam por muito tempo. Apesar disso, o colérico não se deixa afectar grandemente pelo mundo externo, procurando ocupar espaço, pois é cheio de energia. Possuidor de um raciocínio afiado, forte vontade, grande paixão e instinto dominante, mas para o seu desenvolvimento, precisa acolher mais sem necessitar de dar resposta, precisa de mais presença e menos reacção. O fogo não precisa de ser algo que queima, pelo contrário, pode ser algo que aquece e conforta. Refreando os seus ímpetos e direccionando a sua energia para o lugar certo, o colérico precisa desconfiar dos seus primeiros pensamentos, aprender a respirar fundo e levar mais tempo a tomar decisões.


O TEMPERAMENTO MELANCÓLICO

Tendo a justiça, a nobreza e a lealdade como os seus traços mais característicos, resulta da junção dos elementos frio e seco, e o seu símbolo é a terra. A terra, aquela que repousa e marca. A sua estação é o Outono. A secura do temperamento melancólico, faz com que a pessoa seja movida por desafios árduos.

Reconhecemos este temperamento em pessoas intensas e leais, com características como timidez, pessimismo e, até, solidão. Muitas vezes erradamente, associado a características negativas, as suas características de frieza e secura, significam concentração e resistência.

Enquanto o fogo do colérico se expande, a terra do melancólico aprofunda-se. Este temperamento aspira à profundidade. Reage ao acontecimentos de forma lenta, mas perdurável. Quer isto dizer, que não reage imediatamente, mas as impressões da experiência ficam profundamente guardadas. Não esquece facilmente, mas não deixa transparecer as suas emoções, tendendo por isso ao silêncio e à solidão.

A terra é o símbolo da gestação, é por isso que o melancólico tem consciência que as coisas têm o seu próprio tempo. Conhece e compreende o ciclo da sementeira à colheita e, é por isso, que lhe são também atribuídas as características da ordem, da estrutura e da organização.

O seu desafio é aprender a agir com firmeza e posicionar-se perante aquilo em que acredita.


O TEMPERAMENTO FLEUMÁTICO

Observador, paciente e resistente, o temperamento fleumático resulta da conjugação das características frio e húmido, e o seu símbolo é a água. A sua estação é o Inverno. A água é o princípio da vida e, quando estimulada devidamente, pode habitar as profundezas e as alturas.

O fleumático através da sua água, contém as características da concentração e do envolvimento. Reconhecemo-lo em pessoas que são, naturalmente, calmas e introspectivas, mas que, simultaneamente, envolvem os outros. Pessoas, altamente, reflexivas e persistentes, precisam de algo de fora que os puxe, pois a água sem um impulso externo tende a ficar parada.

As impressões causadas por acontecimentos externos são fracas e não perduram no tempo, logo muitas vezes nem chega a reagir.

Sabemos que estamos perante um fleumático quando estamos numa sala e alguém não está a conversar e não se sente mal por isso, pelo contrário, está satisfeito. É aquela pessoa que mesmo na presença de outras, não sente necessidade de falar, diferente do colérico que quer mostrar-se, do sanguíneo que quer chamar a atenção e do melancólico, que talvez nem queira ali estar.

A inércia pode estar presente e impedi-lo de prosperar pela vida. Por isso, o fleumático precisa ser sacudido para que sinta que lhe está a ser exigido que alcance a grandeza.


Aqui chegados, certamente que, na sua introspecção, lhe foi possível identificar o temperamento que mais o caracteriza.

Conhecer os quatro temperamentos, incluindo aquele que mais o representa, é uma forma de ter maior consciência sobre os seus comportamentos e reacções, reconhecer e identificar o que precisa ser trabalhado na sua personalidade, de modo a melhorar a sua jornada de crescimento interno. Assim como, ter a possibilidade de melhor compreender as pessoas com quem lida e, consequentemente, melhorar as suas relações familiares, sociais e profissionais.

Cada um dos quatro temperamentos tem o potencial de nos ajudar a melhor compreender o mundo e as outras pessoas, desenvolver novas habilidades, alinhar-nos com os nossos valores e tornar a nossa personalidade mais fiel à nossa essência.


Mas, na verdade não há ninguém que seja um fiel representante de um único temperamento. Somos constituídos pelos quatro elementos e como tal, a realidade é sempre maior e mais complexa do que as suas categorias especulativas. Por isso, é provável que tenha identificado mais do que um temperamento em si.

Existem também os chamados temperamentos mistos, compostos pela união das características de dois temperamentos. Apesar de poder encontrar em si um temperamento misto, haverá sempre um que se sobrepõe ao outro.

Independentemente disso, falamos sempre de uma componente imutável da nossa estrutura psíquica e o nosso amadurecimento dá-se pelo esforço de aprimorar as nossas características de acordo com cada situação.


~ por Joana Sobreiro





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