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Ética & PNL

No dia 26 de Dezembro recebi no meu email o último boletim informativo de 2023 da IANLP, associação de Programação Neurolinguística à qual, também, pertenço como Fellow Member Trainer.

Como é sabido, porque faço questão de o mencionar com frequência reiterada, sou grande apreciadora da clareza das guidelines com que as formações de PNL devem ser conduzidas. Apesar de não termos uma unificação absoluta no que toca a definições, currículos, regras e códigos de conduta, é relevante reconhecer que cada vez mais esforços têm sido empreendidos, entre diferentes associações, para que a PNL possa continuar a ser ensinada e utilizada de forma ética, séria e credível, e para mim, ainda mais importante, que aqueles que procuram formação certificada de PNL, possam saber o que escolher e, em caso de insatisfação, saibam que existe sede para manifestá-la.

 

Em 2022 tive oportunidade de partilhar a iniciativa de 4 associações – ANLP, IANLP, IN e INLPTA – que a 1 de Abril desse mesmo ano, publicaram o seu Código de Ética Unificado (link). Com objectivos, descritos pelos próprios, de elevar os padrões, a prática e a entrega de formação de Programação Neurolinguística e serviços profissionais de PNL em todo o mundo, procurando o contínuo incremento da sua credibilidade, através da demonstração e apoio das suas melhores práticas, aumentando o conhecimento e consciência sobre os seus benefícios positivos. Bem como apoiar pesquisas, compilar e comparar evidências que corroborem, na prática, a eficácia da PNL.

Para além desta iniciativa, temos igualmente a NLP Leadership Summit, criada por Michael Hall e Frank Pucelik em 2012, que visa reunir trainers de PNL experientes para conversarem, discutirem boas práticas, criarem alinhamento e definirem direccionamentos futuros. Pela primeira vez, tivemos aqui um fórum onde diversas associações e entidades certificadoras, aceitaram convergir e trabalhar em conjunto. Todo o trabalho dos seus membros é voluntário, pois não se trata de um entidade reguladora do campo da PNL, mas apenas de uma agremiação de pessoas e associações que se reúnem em torno de uma declaração de propósito conjunta e valores partilhados.

 

Na continuação destas iniciativas, mais recentemente, em Agosto de 2023, a DVNLP (associação alemã de PNL) definiu novas directrizes éticas para o ensino da PNL que foram, parcialmente, adoptadas e adaptadas pela IANLP.

Assim a IANLP partilhou com os seus membros a definição de 10 princípios (link), em que nos primeiros 3, apresentam o seu entendimento e especificação sobre a origem da PNL e os seus fundamentos pertencentes à psicologia humanista.

A título informativo partilho neste artigo, numa tradução livre, os 10 princípios que, posteriormente, irei explorar mais profundamente.

 

Os 10 Princípios são:

  1. A PNL é uma abordagem ao estado actual;

  2. Abordagens determinísticas (abordagens de traços) não são compatíveis com a PNL;

  3. A PNL pertence à psicologia humanista (3ª força da psicologia) e tem pressupostos básicos construtivistas;

  4. A positividade tóxica não é ética;

  5. A PNL não é uma religião;

  6. Não há imagens predeterminadas de seres humanos a serem alcançadas;

  7. Os trainers de PNL colaboram com profissionais de sistemas de saúde formais de forma apreciativa;

  8. Os currículos são a promessa comum e confiável da associação para os nossos clientes, e são comunicados de forma clara e directa;

  9. Na publicidade (digital e impressa), aplica-se total transparência;

  10. Os colegas instrutores da IANLP comunicam com verdade.

 

Apresentados estes 10 princípios, proponho que olhemos para alguns deles com maior detalhe e especificação.

 

A PNL É UMA ABORDAGEM AO ESTADO ACTUAL E ABORDAGENS DETERMINÍSTICAS NÃO SÃO COMPATÍVEIS COM A PNL

Toda a operação da programação neurolinguística visa trabalhar o estado do indivíduo, ou seja, procura compreender qual o seu estado actual, “qual a qualidade do momento presente”, como se encontra neste momento e qual a diferença entre este e o como quer estar. Significa isto, que aborda o comportamento de acordo com uma flutuação temporal e situacional, resultante do estado emocional em que a pessoa se encontra. Isto é relevante, pois contrasta com qualquer abordagem que faça uso de modelos e traços determinísticos, que se apresentam como definições estáveis, generalizadas e duradouras, objectivamente mensuráveis, descritas como maioritariamente imutáveis.

 

Quando se referem a abordagens determinísticas, falam-nos de traços, traços de personalidade e comportamentais, bem como ao uso de assessments como MBTI, DISC, Big-Five e Structogram, que produzem um diagnóstico. Referem-se ainda a áreas do conhecimento como a Astrologia, a Numerologia ou as Constelações Familiares (de acordo com Bert Hellinger) e a ferramentas como Points-Of-You.

Para todas estas, consideradas, por estas associações, incompatíveis com a PNL, no caso de serem utilizadas e aplicadas, a sua distinção deverá estar claramente identificada. Ou seja, não se trata de excluir alguma destas abordagens, mas de clarificar que não se tratam de PNL e seguem pressupostos e axiomas distintos.

Estes princípios são, igualmente, aplicados ao ensino dos Sistemas de Representação e aos Metaprogramas, que fazem parte dos itinerários pedagógicos oficiais dos currículos de Practitioner e Master Practitioner, e que deverão ser apresentados como situacionais e circunstanciais, em detrimento de traços determinísticos. Quer isto dizer, não podemos afirmar que alguém “é visual” ou “é away-from”, pois tudo deverá ser ensinado numa perspectiva contextual.


 

A PNL PERTENCE À PSICOLOGIA HUMANISTA

Este terceiro princípio, informa os trainers membros da IANLP que estes deverão saber distinguir as 3 forças da psicologia, sabendo posicionar teórica e argumentativamente a abordagem metodológica da PNL, enquadrando-a dentro da corrente humanista.

Num próximo artigo irei escrever sobre as principais correntes da psicologia, designadas por forças, para que possamos ter alguma informação sobre behaviorismo, psicanálise, psicologia humanista e por último, uma quarta força, a transpessoal.

A percepção situacional e a noção de que os indivíduos podem recriar-se, reinventar-se e serem diferentes a qualquer momento, é a primazia da PNL e esta forma de olhar para o ser humano deve reflectir-se na atitude, na linguagem, na didáctica e nas interacções do trainer com os participantes nos seus cursos.


 

A PNL TEM PRESSUPOSTOS BÁSICOS CONSTRUTIVISTAS

Para que possamos melhor entender o que é o construtivismo, adaptei o texto que se encontra disponível na Wikipedia e, posteriormente, num outro artigo, escreverei algo mais profundo e extenso.

Construtivismo é a tese epistemológica que defende o papel activo do sujeito na criação e modificação das suas representações do objecto de conhecimento. Ou seja, aquilo que conhece é produto activo da sua própria criação, interferência e modificação.

O termo começou a ser utilizado na obra de Jean Piaget e desde então vem a ser apropriado por diferentes abordagens, com as mais diversas posições ontológicas, até mesmo epistemológicas.

Hoje, a tese construtivista, é apresentada conjuntamente com abordagens da filosofia, pedagogia, psicologia, matemática, cibernética, biologia, sociologia e arte. As teses comuns à maioria destas abordagens (à excepção do construtivismo social) são relativas à questão da origem do conhecimento e à rejeição ao objectivismo de matiz empirista, e à adopção do sentido kantiano, na atribuição da metáfora da construção.

A rejeição do objectivismo empírico, defende que o objecto, per se, não determina totalmente as representações que um sujeito, supostamente, passivo faz desse mesmo objecto. Justificando-se com duas teses kantianas: a defesa de que as representações (intuições sensíveis) que temos da realidade são condicionadas pela estrutura da nossa mente e construídas automaticamente por ela; e uma segunda, que alega que as hipóteses que construímos sobre o funcionamento do objecto podem ser alteradas e/ou substituídas, voluntariamente, quando falham as predições do que o objecto deveria ser e não corroboram a informação recebida pelos sentidos.

Ajuda-nos a melhor entender estas definições epistemológicas, quando conhecemos o Modelo de Comunicação da PNL (link).


 

A PERMANENTE POSITIVIDADE NÃO É ÉTICA

A vulgarmente designada “positividade tóxica” que nos obriga a pensar positivo a todo o tempo, desumaniza-nos. O reconhecimento do nosso estado actual a cada momento, pressupõe olhar o que é, como está e escolher como se quer estar. Significa isto, que olhamos para o ser humano, livre de culpa por não se estar a sentir “bem” o tempo todo, mas contextualizamos o seu estado e consideramos as suas intenções positivas. Rejeitar a dor, é excluir aprendizagem e alocação de recursos para a mudança.


 

A PNL NÃO É UMA RELIGIÃO E NÃO POSSUI UMA IMAGEM PRÉ-DETERMINADA DE SERES HUMANOS

Este princípio, para alguns de nós, poderá parecer óbvio, mas há momentos em que o óbvio exige ser dito. A PNL não é doutrinária, isto é, não nos apresenta um modelo de mundo, é antes disso, um meta modelo que nos permite conhecer os mecanismos da nossa relação com o mundo e usá-los para criarmos congruência entre as nossas experiências internas e os resultados ou comportamentos que produzimos externamente.

Acresce a esta noção, a concepção de que não possui uma imagem pré-determinada de ser humano que deverá ser alcançada, bem como, não apresenta nenhuma noção global de sucesso.

Neste ponto, quero e permita-me fazer um comentário pessoal. É mesmo importante que este último parágrafo seja escrito, sublinhado, lido e relido. O que mais vemos hoje, são produtos formativos ou vivenciais que apresentam a PNL em conjunto com um indivíduo que é exemplo de sucesso. Coisas como “ganhe o seu primeiro milhão e seja financeiramente bem sucedido”, “aprenda a ser extrovertido e a encantar toda a gente com a sua oratória”, “tenha o corpo dos seus sonhos e seja sexualmente activo e atraente”, “tenha uma relação amorosa em que trabalham e têm sucesso juntos”... Peças de comunicação que apresentam uma cabeça de cartaz que é exemplo destes alegados “sucessos”, que promete que a PNL irá transformar-nos nisso e que este é o caminho certo para o “sucesso”.  Pois bem, acho óptimo que estas ofertas existam, sou uma defensora da economia de mercado e é nela que encontramos espaço para todo o tipo de oferta, para todo o tipo de gosto, tamanho e feitio, e onde, livremente, cada pessoa consome aquilo que deseja. Mas é igualmente importante esclarecer, que PNL não é isso, estando na sua proposta central a congruência individual, alicerçada nas próprias definições e desejos, onde as pessoas aprendem sobre a estrutura da mudança e como operá-la em si, desprovidas de receitas e fórmulas que as transformarão numa réplica do exemplar de “sucesso”.


 

OS TRAINERS DE PNL COLABORAM COM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE FORMA APRECIATIVA

A PNL abstém-se de fazer diagnósticos ou oferecer promessas de cura, bem como trabalha de forma colaborativa com outros profissionais dos sistemas formais de saúde. Não se apresentam disputas com psicólogos, psicoterapeutas, médicos ou clínicos, pois não se substitui a estas restantes áreas de actuação.


 

OS TRAINERS, OS CURRÍCULOS E A PUBLICIDADE SÃO TRANSPARENTES

O ensino formal da PNL apresenta-se como uma proposta de aprendizagem clara, objectiva e transparente, onde programas, propostas pedagógicas e itinerários são explícitos. A publicidade abstém-se de títulos como “PNL Premium”, “Ultimate Practitioner”, “PNL 3 em 1”, “A melhor PNL do mundo e arredores”, pois os currículos constituem a base comum da licença docente, são também os currículos a promessa comum das associações que procuram assegurar os standards para a aprendizagem nos diferentes níveis da PNL.

 

Aqui chegados, acredito que esta informação seja útil, sobretudo, para quem é trainer de PNL e gosta de acompanhar estes movimentos das associações, mas também para qualquer pessoa que já tenha iniciado a sua aprendizagem nos diferentes níveis de certificação da PNL ou esteja a pensar fazê-lo.


Uma decisão informada, à partida, parece oferecer melhores condições para a escolha.

Aproveito para lhe desejar uma vivência de 2024 com congruência e alinhamento entre o seu “jogo interno” e aquilo que vai manifestar no mundo.


 

~ por Joana Sobreiro








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