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ARQUÉTIPOS

O inconsciente dos seres humanos é uma rica paisagem de figuras que povoam o nosso imaginário individual e colectivo, e que de alguma forma regulam e norteiam as nossas vidas.

No último artigo, tive oportunidade de lhe apresentar A Jornada do Herói de Joseph Campbell e fazer referência à relevância que os mitos têm na orientação da nossa existência. Na sequência da exploração do nosso imaginário, falarmos de arquétipos torna-se um tema muito interessante de explorar.



O QUE É UM ARQUÉTIPO?

Ao chegarmos ao mundo, nenhum de nós inventa a sua vida do zero, pelo contrário, adoptamos a adaptamo-nos a padrões arquetípicos de vida que emergem dos nossos instintos, nos são ensinados pelos nossos pais ou cuidadores, e que nos cercam na cultura em que estamos inseridos. O crescimento pressupõe que enquanto seres humanos nos vamos individualizando, dando características próprias e particularidades específicas à expressão genérica dos arquétipos que nos influenciam.

Independentemente dos tons que cada um de nós dá aos seus arquétipos, o facto é que vivemos rodeados deles, mesmo que de forma inconsciente. São os arquétipos que nos permitem categorizarmo-nos a nós e aos outros, a fim de melhor compreender o mundo, as pessoas e as experiências que vamos vivendo.

Tornarmo-nos conscientes do nosso conjunto pessoal de arquétipos e de como estes influenciam os nossos comportamentos, dar-nos-á informações importantes sobre os nossos padrões emocionais, o tipo de escolhas que fazemos e as premissas com que lidamos com a vida.

Mas ainda antes de irmos explorar e aprofundar-nos no tema, começo por definir arquétipo: é na cultura da antiga Grécia que encontramos as primeiras referências a arquétipos, descrevendo-os como “impressão ou selo original”, a imagem “primeira” ou “primordial”.

Encontramos na obra da Platão inúmeras referências a arquétipos, aquilo a que o próprio deu o nome de Formas. Na filosofia de Platão, podemos encontrar a descrição de dois tipos de realidade: o mundo físico em que vivemos e onde nos movemos, e o reino não-físico onde existem as Formas. Forma é então o termo usado por Platão para se referir aos arquétipos residentes no mundo intangível, que apelidou de Ideias. Tratam-se de modelos ou projectos de ideias pré-existentes e anteriores à materialidade, ou manifestação na realidade. Querendo isto dizer que tudo o que vemos no mundo, foi criado de uma forma anterior.

Mais próximo dos nossos tempos, temos Carl G. Jung que muito dissertou sobre a importância dos arquétipos, definindo-os como “unidades fundamentais da mente humana”. Segundo a definição que apresentou em Estrutura e Dinâmica da Psique, trata-se de um “sistema vivo de aptidões e reacções que determinam a vida do indivíduo de maneira invisível”.

Estes padrões pré-existentes, que se apresentam como um modelo ou o “exemplo perfeito” de algo, torna os arquétipos previsíveis. Significa isto que quando pensamos, por exemplo, no arquétipo do Herói, independentemente, da imagem que cada um de nós tenha em mente, facilmente, lhe atribuiremos característica de bravura, coragem, persistência, valor e acção, representando a forma de certos padrões de comportamento e traços de personalidade que surgem universalmente, e depois se corporizam mais ou menos especificamente em diferentes pessoas.


A própria imagem que escolhi para ilustrar este artigo, o Filósofo em Meditação de Rembrandt, mostra-nos o sol a atravessar uma janela, cuja luz é absorvida pelo filósofo a partir do seu reflexo no chão, abrindo-se à luz da consciência e preparando-se para subir os degraus da espiral para a iluminação. O Filósofo é um arquétipo, que muitas vezes também se apresenta como o Velho Sábio, também a este, muito provavelmente, com facilidade atribuímos características como sabedoria, conhecimento dos mistérios da vida, bondade, um mentor.



ARQUÉTIPOS NO INCONSCIENTE COLECTIVO

Jung identificou ainda, que os arquétipos representam um padrão de pensamento herdado, que deriva das experiências colectivas passadas, que povoam os nossos inconscientes.

Temos formas desde os arquétipos antigos como os da mitologia grega (isto para não irmos mais atrás), que se conjugam com novos arquétipos, surgidos mais recentemente, como por exemplo, o geek ou o nerd, e todos eles coexistem de maneiras mais ou menos incorporada em cada um de nós.

Temos assim, um panteão de personagens na nossa psique, que influenciam de forma muito específica e particular cada uma das nossas personalidades individuais.


Se quisermos analisar mais um pouco, perceberemos que os arquétipos estão em toda a parte, desde as religiões, aos mitos e lendas, no folclore de cada povo e até nos contos de fadas, que mostram as suas evidências nos nossos sonhos, na forma como atribuímos significado às experiências, como pressupomos coisas sobre pessoas, fantasiamos e agimos. Encontramos arquétipos na literatura, em filmes, em peças de teatro, na arte, o próprio marketing usa arquétipos para comunicar uma marca aos seus consumidores.

É por isso que a psicologia utiliza arquétipos para enquadrar comportamentos associados a um papel social, cujas características são percebidas de forma semelhante por todos os indivíduos, pois residem no inconsciente colectivo, como um legado psicológico resultante das experiências de milhares de gerações, na vivência dos seus quotidianos.



A IMPLICAÇÃO DOS ARQUÉTIPOS NA PSIQUE

Estes símbolos do nosso imaginário, desempenham três importantes funções nas nossas vidas, pois afectam comportamentos, activam emoções e fornecem significado. Vejamos:


Os arquétipos influenciam o nosso comportamento

Segundo Jung tratam-se das “formas que os instintos assumem”. Como poderá ler num artigo anterior sobre motivação, instintos são impulsos biológicos que quando accionados, activam um determinado padrão de comportamento. Então a primeira função psicológica de um arquétipo é representar um conjunto de padrões de comportamento partilhados por toda a humanidade;


Os arquétipos despertam emoções

Na sua obra O Homem e os seus Símbolos, Jung explica que os arquétipos são “as peças da própria vida – imagens que estão integralmente conectadas ao indivíduo vivo pela ponte das emoções”. Ao vivenciarmos uma emoção, é a emoção de um arquétipo, pois diferentes arquétipos despertam e evocam diferentes emoções. As mães são cuidadoras, os aventureiros são livres, os amantes são apaixonados, as sereias são tentadoras, as princesas são delicadas, os guerreiros são corajosos, os reis são magnânimos, etc. etc. etc.;


Os arquétipos atribuem significado

A vida interior de cada individuo aloja a fonte do seu significado pessoal. A imaginação, as fantasias e a própria vida emocional dão significado ao mundo e à vida exterior a partir do imaginário pessoal. São os arquétipos que nos ajudam a compreender o nosso mundo interior e a nossa vida emocional, é através deles que conseguimos melhor entender quem somos e o que nos move.


Jung defendeu que não existe um limite para o número de arquétipos, pois eles estão em toda a parte e, geralmente, apresentam-se sob três formas básicas:

  1. Arquétipos situacionais – exemplos destes são: a busca, a iniciação, a jornada, a queda, a morte e o renascimento, a tarefa, a batalha do bem contra o mal, o ritual, o reencontro, a transformação, o nascimento;

  2. Arquétipos simbólicos – luz vs escuridão; bem vs mal; abundância vs vazio; nutrição vs escassez; água vs deserto; refúgio vs selva; os elementos da natureza; as formas, como por exemplo o círculo;

  3. Personagens arquetípicas o herói e o vilão, o bom e o mau, a sedutora e a recatada, a relação mentor-aluno, o conflito pai-filho, o velho sábio, o vigarista, os iniciados, o rei e a rainha, o conciliador. Deuses apresentam-se também como personagens arquetípicas, até animais.


Mais um exemplo, cada um de nós tem uma mãe, que certamente não é a mesma e, como tal, haverão tantas diferença quantas as nossas mães, mas em todos nós há um arquétipo de Mãe que muito provavelmente nos faz convergir nas semelhanças. Facilmente, creio eu, atribuiremos ao arquétipo da Mãe características como nutrição, protecção, conforto, abrigo, aconchego, cuidado e segurança, e são estas a características arquetípicas do nosso inconsciente que contribuem para que possamos avaliar se temos ou tivemos uma “boa” mãe. Quando a nossa mãe está muito distante deste arquétipo, ou sendo mãe nos sentimos longe desta imagem primordial, julgamo-la ou julgamo-nos como erradas.


Arquétipos são as forças secretas por trás do comportamento humano, que vivem na dimensão inconsciente da mente e que nos influenciam sem que tenhamos, necessariamente, consciência disso. Estando a influenciar tudo o que fazemos, pensamos e sentimos, da mesma forma que influenciam tudo o que está ao nosso redor.

No momento em que lhe for possível identificar o ou os arquétipos que estão a operar dentro de si, significa que se diferenciou do arquétipo. Esta diferenciação é importante, porque quando nos é possível separar do arquétipo e “vê-lo”, é menos provável que ele tenha um domínio insalubre no seu comportamento.



ARQUÉTIPOS PARA CONHECER E MENTE

Através dos arquétipos temos uma via poderosa de conhecer a mente, que por se apresentar conceptualmente como uma unidade singular – “a minha mente” – aparenta ser apenas uma coisa, quando na verdade é um infindável encontro de personagens arquetípicas, que a tornam absolutamente plural.

Estas figuras do nosso panorama mental recebem o nome de subpersonalidades na psicossíntese, de partes nas abordagens sistémicas, de personificações na psicologia do espaço mental, entre outros. Independentemente do nome que lhes é dado, o que ilustram é uma colecção de personagens e símbolos, que vão influenciando quem somos e a nossa relação com o mundo.


Foram os antigos gregos, a última civilização que se relacionou, de forma consciente e consistente, com o poder dos arquétipos. Aquilo a que na antiga Grécia se chamava de deuses de deusas. Possuindo um entendimento de que era necessário adorar todo o panteão de deuses, mesmo nos casos de haver preferências, nenhuma das divindades poderia ser descartada ou ignorada. Pois aquele que for ignorado, voltar-se-á contra o indivíduo. À semelhança do que ocorre na psique, a energia renunciada, passa a regular-nos no mais profundo do nosso inconsciente.


Nestes tempos da pós-modernidade, surge uma nova necessidade de trabalharmos com o poder dos arquétipos, talvez até mais hoje em dia, do que em qualquer outro momento da história, pois até há pouco séculos, a humanidade mantinha uma relação próxima com figuras mitológicas e rituais, que mantinham e promoviam uma certa ordem psíquica.

Com o Iluminismo, as estruturas mitológicas foram quebradas, o símbolo foi sendo relativizado, dando espaço à literalidade da relação com a vida. O reducionismo-mecanicista colocou os humanos no “cada um por si”. O que hoje é percebido como pensamento arcaico e antiquado, eram formas de manter o equilíbrio das forças arquetípicas no interior da mente.



OS ARQUÉTIPOS JUNGUIANOS

No início do seu trabalho, Jung era um discípulo de Freud e uma das razões apontadas para o seu afastamento, deveu-se à crítica de Jung relativamente à enfase excessiva, dada por Freud às questões da sexualidade, levando-o a desenvolver o seu trabalho da psicologia analítica. Embora Jung tivesse alinhado com a visão de Freud, de que o inconsciente desempenha um importante papel na personalidade e comportamento dos indivíduos, ele alargou a sua perspectiva do inconsciente pessoal, para incluir a noção de inconsciente colectivo.


Para Jung a psique humana é composta por três elementos: o ego, o inconsciente pessoal e o inconsciente colectivo. Sendo o ego a representação da nossa mente consciente e o inconsciente pessoal o container de memórias, incluindo aquelas que foram suprimidas. Jung rejeitou, totalmente, o conceito de “tábua rasa”, a ideia de que a mente humana é uma folha em branco quando nascemos, que será escrita exclusivamente aos experienciar-se a vida. Para Jung a mente humana contém aspectos biológicos fundamentais e inconscientes dos nossos ancestrais, que chegam até nós por via do inconsciente colectivo.


No seu trabalho, Jung identificou quatro arquétipos principais, assegurando que não haveria um número exacto nem um limite para a existência de figuras arquetípicas. Sendo os quatro principais: a persona, a sombra, anima ou animus, e o self.


A PERSONA

A palavra “persona” deriva do latim, cujo significado é, literalmente, “máscara”, representando a forma como nos apresentamos ao mundo. O facto de significar máscara não pressupõe falsidade, como muitas vezes vemos ser-lhe atribuída, é sobretudo, a definição dos diferentes papeis sociais que cada indivíduo possui, protegendo o ego de imagens negativas.

Desde tenra idade, aprendemos a adoptar determinados comportamentos de forma a ir ao encontro das expectativas da sociedade. Neste caso a persona desenvolve-se enquanto máscara social para conter os impulsos, os desejos e as emoções primitivas, cuja expressão não é socialmente aceite.

O arquétipo da persona, permite a adaptação dos indivíduos ao mundo e que se encaixem na sociedade em que vivem. No entanto, a excessiva identificação com a persona, pode levar as pessoas a perderem-se do eu verdadeiro.


A SOMBRA

Este é o arquétipo que representa os impulsos sexuais e de vida. É o elemento da mente inconsciente que guarda as ideias reprimidas, os desejos, os instintos, as carências e as fraquezas.

A necessidade de adaptação às expectativas culturais e sociais, faz com que a sombra se desenvolva. Mas não se trata apenas de corresponder ao exterior, este é também o símbolo que contém o que não é aceitável para a própria moral individual e para os valores pessoais. Na sombra podemos encontrar elementos como a inveja, a ganância, o preconceito, o ódio, a mesquinhez e a agressividade.

Apesar de ser frequente as pessoas negarem a existência destes elementos da sua própria psique, projectando-os nos outros, Jung acreditava que se tratam de disposições latentes, presentes em cada indivíduo.


ANIMA OU ANIMUS

Falamos de dois tipos de imagens mentais, sendo a anima a imagem feminina presente na psique masculina, e o animus a imagem masculina, presente na psique feminina. Anima e animus representam o “eu verdadeiro” e funciona como fonte primária de comunicação com o inconsciente colectivo.

Segundo Jung as diferenças fisiológicas, assim como as influências sociais, contribuíam para a construção dos papeis sexuais e identidade de cada um dos sexos, sendo estes arquétipos mais um elementos a contribuir para esta definição.

Sendo animus o aspecto masculino nas mulheres e anima os aspecto feminino nos homens, estas imagens podem ser encontradas tanto no inconsciente colectivo, como no individual.

A rigidez dos papeis tradicionais imposta por algumas culturas, desencorajando que homens explorem os seus aspectos femininos e mulheres, os seus aspectos masculinos, representava para Jung, uma possível inibição do desenvolvimento psicológico dos indivíduos.


O SELF

Representa a unificação da consciência com a inconsciência. Vemos, frequentemente, o eu representado por Jung, como um círculo, um quadrado ou um mandala.

A individuação é um processo através do qual vários aspectos da personalidade são integrados e do qual resulta a criação do self.

Segundo Jung, a personalidade apresenta dois centros distintos: o ego, que constitui o centro da consciência, tendo o self no centro da personalidade; e a personalidade que abrange, não somente, a consciência, mas também o ego e a mente inconsciente. Jung considerou que os objectivo final seria o indivíduo alcançar um senso de auto-coesão e integridade total.


Os arquétipos são então uma via de usar a mente para conhecer o que está dentro da mente, pois é dentro dela que se encontram os arquétipos. Somente o nosso centro psíquico pode organizar a mente, mas nem sempre o self está disponível para fazê-lo, por termos a atenção voltada apenas para os outros arquétipos.

Encontramos uma boa ilustração desta ideia tanto no budismo, como no taoismo, ao estabelecerem uma relação análoga entre um anfitrião e os seus convidados numa casa, com próprio funcionamento da mente. A casa representa a psique, o anfitrião é o self e os hóspedes, o panteão de arquétipos. O desafio é que estes hóspedes convidados são, na sua maioria, mal educados e desagradáveis uns com os outros, o que faz com que o anfitrião tenha de estabelecer a ordem e a harmonia dentro de casa, acrescido do prolema de que grande parte dos indivíduos não têm um anfitrião para manter a ordem.

É o self que traz ordem à psique, apresentando-se como um anfitrião neutro, vazio de conteúdo e sentimentos, sem julgamento, que não é afectado pelos pensamentos e sentimentos dos seus hóspedes. Daí ser tão importante que cada um de nós desenvolva uma relação com o seu centro, o encontre e se ancore nele. Só desta forma, poderemos criar este espaço dentro da psique que regule os outros elementos, sem se identificar com eles, se não o fizermos, deixaremos os hóspedes a tomar conta da nossa casa.



OUTROS ARQUÉTIPOS JUNGUIANOS

O número de arquétipos não é estático, nem fixo, pois diferentes arquétipos podem sobrepor-se ou criar novas combinações que resultam em novas figuras arquetípicas.

Estando nós cientes de que os seres humanos são um belo e extraordinário “produto” da complexidade, e que somos influenciados por diversos arquétipos, é também verdade que temos um em dominância. Importa acrescentar, que uma figura arquetípica é um símbolo de luz e sombra, quer isto dizer, que ao incorporarmos um arquétipo, damos corpo às suas duas dimensões.

Jung defendeu que cada arquétipo desempenha um papel na nossa personalidade, e a expressão do domínio de um arquétipo específico, resulta da reunião de vários factores, tais como as influências culturais e as experiências pessoais únicas de cada indivíduo.


Habitualmente, é usada uma classificação de 12 arquétipos, reunidos a partir do trabalho de Jung, que representam algumas das motivações básicas dos indivíduos e que são de grande ajuda para a compreensão da nossa personalidade e dos potenciais que cada um de nós pode desenvolver.


O Sábio – aquele que procura o conhecimento, que reflecte e se aprofunda, que avalia as situações com distanciamento e auto-reflexão, e age com sabedoria e inteligência. Lógica, verdade e critério, são características que os constituem. Busca a verdade através do conhecimento e tem tendência para ser metódico e muito detalhista. O seu maior desafio é não se deixar deter nos pormenores e agir mais.


O Mago – possuidor de um conhecimento que não é apenas racional, mas também místico e espiritual. Acredita que o mundo pode ser diferente e que os sonhos podem transformar-se em realidade, desenvolvendo uma visão específica da vida, agindo no sentido da sua realização e vivendo de acordo com ela. Intuitivo, visionário e inventor, são características que lhe são reconhecidas. Deseja compreender as leis que regem o universo e o seu desafio consiste em refrear a tendência para a manipulação, o idealismo e a solidão.


O Explorador/Aventureiro – gosta e procura a liberdade, quer ser livre para agir e descobrir o mundo, procurando novas experiências e fugir da rotina. Liberdade, ousadia e independência, são características que lhe são reconhecidas. A autenticidade e espontaneidade, marcam este arquétipo. O seu maior medo é fadar-se ao conformismo e o seu desafio é lidar com o excesso de idealismo, que o poderá transformar num eterno insatisfeito.


O Criador/Artista – dá vida à imaginação e às coisas que ainda não existem. Arte, idealização e inovação, são atributos reconhecidos, procurando sempre a harmonia e o reconhecimento. A vontade de encontrar soluções, dá-lhe alguma semelhança ao explorador, mas neste caso, por solucionar situações arcaicas e desfasadas do seu tempo. É, geralmente, perfeccionista e recusa-se a ficar preso na mediocridade. Os seus desafios são ultrapassar a inconstância e o pensar demasiado antes de agir.


O Herói – é o guerreiro destemido que luta para proteger os seus e não teme os perigos. Bravura, coragem e vitalidade são características que lhe são atribuídas. O herói é aquele que procura provar o seu valor, através de atitudes corajosas e grandiosas, com o objectivo de encontrar o bem maior. O seu maior desafio é lidar com a arrogância e a ambição.


O Rebelde – é aquele que pensa de formas diferentes, quebra padrões e acredita que as regras podem ser quebradas. Gosta de questionar, provocar e desafia as regras vigentes, e o seu principal objectivo é transformar o que está obsoleto. O seu desafio é lidar com uma certa tendência para a auto-destruição.


O Amante – sensível e com grande sentido estético, dá grande importância às relações e sente-se feliz ao amar e ser amado. Intensidade, intimidade e sensualidade são características que se lhe reconhecem. Este é o arquétipo da atracção, movido pelo desejo de parceria, não apenas no amor romântico, mas sob todas as formas de se relacionar. O desafio é não permitir que perca a própria identidade pelo desejo intenso de conquistas, agradar e encantar o outro.


O Tolo/Bobo da Corte – também conhecido como o comediante ou o louco, rege-se pela diversão, leveza e espontaneidade, é alegre, gosta de aproveitar a vida e fazer piadas, sem medo do julgamento alheio. A sua autenticidade faz com que não tenha vergonha de rir de si mesmo, tendo a missão de levar a sua alegria ao mundo. O principal desafio é não ser excessivamente superficial e gerir as suas prioridades.


O Cuidador/Prestativo – gosta de cuidar dos outros, fazendo o possível para que todos estejam bem. É prestativo e solicito, motivado por ajudar outras pessoas, “amando o próximo como a si mesmo”. Altruísmo, protecção e compaixão são características atribuídas a este arquétipo. O seu maior desafio é não carregar as dores do mundo e não sufocar quem o rodeia.


O Homem comum – age em conformidade com o que a sociedade espera dele, não agita o barco, não faz ondas, sendo habitualmente bom para quem o rodeia, no limite por não incomodar. Realismo e simplicidade são-lhe reconhecidos. Não procura destacar-se e sim pertencer, não tendo necessidade de impor as suas convicções no meio onde se encontra. Deseja desenvolver virtudes comuns e ser útil, sem grandes pretensões. O seu desafio é não perder a sua individualidade e ser mais ambicioso.


O Inocente – optimista, vê os aspectos positivos em todas as situações. Espontaneidade, sonhos e esperança são características suas, pois o seu principal objectivo é ser feliz. Apresenta um certo grau de ingenuidade e evita, ao máximo, qualquer conflito. Evitar o confronto pode levá-lo à estagnação, sendo este um dos seus desafios, acrescido da necessidade de agradar e pertencer.


O Governante – é o arquétipo do líder, sendo a responsabilidade um dos seus traços mais marcantes. Funciona bem com regras claras e a liderança, a solidez e a excelência, são características que lhe são reconhecidas. Necessidade de controlo e poder, sabe impor a sua autoridade, podendo tornar-se autoritário para fazer valer a sua vontade. Os seus principais desafios estão no saber delegar e na flexibilidade.



AUTO-CONSCIÊNCIA DOS PRÓPRIOS ARQUÉTIPOS

A jornada do auto-conhecimento é um vasto caminho, feito de inúmeros elementos que vamos tornando conscientes e nos permitem ter, cada vez mais, uma percepção mais próxima e mais ampla de quem somos, e o que influencia a forma como vivemos as nossas vidas e existimos no mundo.

Sabendo nós que o self é o princípio organizador, dentro das nossas mentes, que mantém o equilíbrio e a ordem psíquica, é muito relevante que desenvolvamos a capacidade de estarmos presentes com o nosso centro. A descoberta ou o reencontro com este centro, liberta-nos do domínio dos arquétipos, ou de um arquétipo predominante.

Lembre-se que um arquétipo não é pessoal, pertence ao colectivo e é desempenhado pelos indivíduos que possuem o modelo. Ao tomar consciência deste fenómeno, ao compreendê-lo e ao inaugurar uma percepção dissociada de si com um determinado arquétipo, permite que se separe dele, dando-se a liberdade e o espaço para que testemunhe os seus comportamentos, proporcionando-lhe a possibilidade de escolher um novo curso de acção mais apropriado e alinhado com os seus valores e intenções.

Significa isto, que não é uma questão de saber se os arquétipos estão a influenciar o seu comportamento, é uma questão de grau, o quanto estão a influenciar. A medida em que está ciente dos arquétipos a operar dentro de si, é um indicador do seu nível de consciência. Com maior auto-consciência, somos capazes de, mais habilmente, navegar pela nossa paisagem emocional arquetípica e vivermos congruentemente as nossas vidas.


~ por Joana Sobreiro




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