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AUTOCONSCIÊNCIA

Quantas vezes ao longo do seu dia está consciente de si?

Quão autoconsciente percebe que é?

Só o facto de parar para reflectir nestas duas questões, mais autoconsciente pode tornar-se...

Independentemente de ter respondido que com pouca frequência está consciente de si, ou que está consciente de si a todo o tempo. Saber mais sobre autoconsciência é adequado para todos nós, visto esta ser uma habilidade que, exactamente, como os músculos do nosso corpo, precisa de prática e treino para se manter forte e flexível.


Segundo Daniel Goleman, se as nossas competências emocionais não estão nas nossas mãos, se não temos autoconsciência, se não sabemos gerir as nossas emoções, se não conhecemos os nossos factores de motivação e os temos sob o nosso controlo, se não sabemos empatizar com outras pessoas e ter relações funcionais, não importa o quão inteligentes possamos ser, pois não iremos “chegar muito longe”.

O que diversos estudos sugerem é que ao termos clareza sobre quem somos e estarmos cientes de nós, tornamo-nos pessoas mais confiantes e criativas, tomamos decisões com maior facilidade, estabelecemos relações mais fortes e comunicamos mais eficazmente. Significa isto que como resultado, somos pessoas mais predispostas à verdade e honestidade, trabalhamos de forma mais produtiva e lideramos mais eficazmente.



A TEORIA DA AUTOCONSCIÊNCIA

Segundo a American Psychological Association, autoconsciência define-se como “as consequências de focar a atenção no eu”. Sendo a capacidade de um indivíduo se ver, a si mesmo, de forma clara e objectiva através da auto-observação, introspecção e reflexão.

Esta definição é controversa, mais à frente explicar-lhe-ei porquê, por agora consideremos que a total objectividade sobre as nossas próprias percepções não existe, no entanto, vamos considerar esta definição e incluí-la num espectro.

Começo por referir que havendo uma ideia, fundamental e basilar, aceite por todos sobre o que é a autoconsciência, não se sabe exactamente de onde ela vem, e de que forma algumas pessoas parecem tê-la em maior grau do que outras.

Havendo esta questão sempre presente, procurarmos saber um pouco mais sobre as teorias da autoconsciência, pode ser uma boa ajuda para que a possamos melhor compreender.


Os resultados das pesquisas sobre autoconsciência identificam que esta se divide em dois tipos: autoconsciência subjectiva e autoconsciência objectiva.

A ideia da subjectividade da autoconsciência apoia-se no princípio de que o indivíduo é a fonte de todas as suas percepções e comportamentos, sendo o mundo o resultado das suas observações e experiências. Ou seja, a consciência de si é relativa, abstrata e subjectiva, resultante dos fenómenos intrínsecos, individuais e internos ao próprio indivíduo.


William James, psicólogo norte-americano considerado o pai da psicologia moderna, foi um dos primeiros a contribuir para a ampla exploração de uma variedade de processos autocentrados. Na sua publicação de 1891, intitulada The Principles of Psychology, William James procurou descrever e conhecer como cada indivíduo se sente a respeito de si próprio. Neste seu trabalho, temas como auto-estima, objectivos pessoais e realizações percebidas, foram avaliados fazendo distinção entre o eu-subjectivo e o eu-objectivo.

Desde então, o estudo da autoconsciência tem atraído muito interesse, sobretudo nas áreas da psicologia social, continuando a colher mais e novos contributos de pesquisas em andamento, sobretudo na procura por definir quando a autoconsciência emerge no indivíduo, o que significa, as suas variações e porque é importante desenvolvê-la.


Segundo a teoria do desenvolvimento de William Brownell, as crianças tornam-se autoconscientes por volta dos 18 meses de idade. Neste momento a criança adquire um senso de si mesma e percebe-se separada dos outros, sendo este um exemplo de autoconsciência subjectiva.

De acordo com a American Psychological Association, a autoconsciência objectiva supõe a capacidade de o indivíduo se avaliar a si mesmo em comparação com outros, para a seguir, poder corrigir os seus comportamentos. Pois ao verificar-se diferenças entre o eu-real e o eu-ideal, o desconforto daí resultante, faz com que olhemos para fora de nós mesmos e, consequentemente, para os outros.

A objectividade da consciência, segundo a teoria dos Cinco Níveis de Autoconsciência de Philippe Rochat, surge na criança por volta dos 5 anos de idade. Ao atingir o quinto nível na escala de desenvolvimento da consciência do eu, a criança está preparada para aprender a autorregular-se. Autorregulação é outros dos conceitos centrais das teorias do desenvolvimento, pois esta poderá estar dificultada quando não existe autoconsciência objectiva. Visto a autorregulação ser a capacidade de os indivíduos controlarem os seus impulsos e acções, aqueles que se autorregulam têm uma maior predisposição para alcançar os seus objectivos.


A ideia específica de autoconsciência objectiva foi, formalmente, articulada pela primeira vez por Shelley Duval e Robert A. Wicklund, numa publicação de 1972. Na sua publicação intitulada Theory of Objective Self Awareness, os autores introduziram definições concretas para os dois tipos de autoconsciência:

  • Autoconsciência objectiva: que surge da comparação de atitudes, desempenhos, traços de carácter e comportamentos percebidos nos outros, com os próprios padrões do eu;

  • Autoconsciência subjectiva: que surge da observação e experiência do próprio indivíduo, onde este é a própria fonte das suas percepções e comportamentos, sem referencial externo.


Neste seu trabalho, Shelley Duval e Robert A. Wicklund, exploraram a premissa de que nós não somos os nossos pensamentos, somos antes a entidade que os observa. Sendo cada indivíduo o pensador-observador separado dos seus pensamentos.

Para estes dois psicólogos sociais, os indivíduos podem passar o dia envolvidos com os seus pensamentos, introspectivos, sem estarem conscientes do que lhes está a povoar as mentes, ou poderão observar os fenómenos da mente e os comportamentos resultantes, uma habilidade que denominaram de auto-avaliação.

A auto-avaliação é a capacidade de pensar sobre pensamentos, sentimentos e acções, e discernir se estes cumprem os nossos padrões, o que consideramos importante, para onde queremos dirigir a nossa energia e se são congruentes com os nossos valores. Este comparativo de avaliação tanto ocorre de forma subjectiva comparando o eu-real com o eu-ideal, como comparando o desempenho do eu com o desempenho dos outros. Criando assim, padrões de correcção por comparação entre o que está a acontecer e o que queremos que aconteça. Esta é uma importante prática de autocontrolo, pois à medida que nos auto-avaliamos podemos validar ou corrigir as nossas escolhas com vista aos resultados que queremos produzir.


Para Daniel Goleman, a autoconsciência descreve-se por um conjunto de habilidades que nos permitem saber o que estamos a sentir e porque o estamos a sentir. É por isso, o primeiro pilar da Inteligência Emocional, e descreve três competências fundamentais para o seu desenvolvimento:

  • Autoconsciência emocional – a capacidade de reconhecermos as nossas próprias emoções e os seus efeitos tanto fisiológicos, como no comportamento, bem como no impacto criado nos outros;

  • Autoavaliação precisa – conhecer e estarmos cientes dos nossos pontos fortes, dos nossos pontos de melhoria e dos nossos limites;

  • Autoconfiança – ter uma autoestima desenvolvida e um forte senso das nossas capacidades.


Embora uma considerável percentagem de pessoas acredite, individualmente, que é autoconsciente, a autoconsciência parece ser uma característica escassa. Segundo o artigo de Tasha Eurich, publicado pela Harvard Business Review, as suas pesquisas demonstraram existirem diferentes tipos de autoconsciência e que esta se apresenta numa percentagem reduzida dos indivíduos, estimando-se que apenas 10 a 15% dos indivíduos são efectivamente autoconscientes.

O estudo de larga escala conduzido por esta psicóloga e a sua equipa, contemplou 10 investigações separadas, totalizando aproximadamente 5.000 participantes. As suas perguntas de pesquisa debruçaram-se sobre o que é, realmente, a autoconsciência, porque esta é importante e como pode ser aumentada.


50 anos de pesquisas resultaram em inúmeras definições de autoconsciência. Para alguns estudiosos do tema, autoconsciência traduz-se na capacidade de um indivíduo monitorar o seu mundo interior. Outros, definem-na como um estado de autopercepção temporário e, para outros ainda, autoconsciência define-se pela diferença entre como um indivíduo se vê e como é visto por outros.


Para avançar com os seus estudos, Tasha Eurich procurou criar uma definição de autoconsciência suficientemente abrangente, mas mensurável. Assim, chegaram a dois tipos de autoconsciência, que na verdade, são apenas outras designações para a autoconsciência subjectiva e autoconsciência objectiva:

  • Autoconsciência interna: representando o quão claramente o indivíduo se vê a si próprio, está ciente dos seus valores, paixões, aspirações e como este se adequa ao seu ambiente, como reage, estando ciente dos seus pensamentos, sentimentos, comportamentos, pontos fortes e fracos, e o impacto que cria nos outros;

  • Autoconsciência externa: representando como outras pessoas vêem este indivíduo, tendo em conta os mesmo elementos citados na autoconsciência interna. Sendo este um segundo tipo de consciência que define o grau de conhecimento que o próprio tem sobre como os outros o vêem.


De acordo com este trabalho de investigação, poder-se-ia concluir que ao termos um tipo de consciência mais desenvolvida, inevitavelmente, a outra também o seria. As pesquisas demonstraram não existir relação directa entre elas e como resultado, identificaram quatro arquétipos de consciência e cada um deles com oportunidades de melhoria.



OS 4 ARQUÉTIPOS

DA AUTOCONSCIÊNCIA

Dividindo a autoconsciência em interna e externa, e ambas em alto e baixo graus, encontramos quatro perfis que resultam do encontro dos dois eixos – quão bem o indivíduo se conhece a si próprio e quão bem o mesmo indivíduo compreende como os outros o vêem.



Provavelmente, ao observar estes quatro quadrantes, encontra semelhanças com o modelo da Janela de Johari, que lhe falei num artigo anterior. Sendo a Janela de Johari um bom assessment para o auto-conhecimento, poderá usá-lo para melhor compreender o arquétipo que tem estado presente em si e saber como desenvolver a sua autoconsciência, mudando a influência arquetípica.


Apesar de nestes estudos não se ter encontrado uma relação directa entre a autoconsciência interna e a externa, importa referir que há uma ordem de importância entre elas. Começando por frisar a importância de se conhecer e estar consciente de si a partir da sua própria introspecção, reflexão e internalização, e sequencialmente, procurar e estar disponível para receber feedback externo. Tal como na infância, primeiro aprendemos a reconhecer que somos um ser independente e separado, já nos reconhecemos no espelho e aprendemos a dizer não, e só mais tarde incluímos, de facto, uma melhor noção do outro, comparando-nos e retirando aprendizagens a partir da visão de outros.

As pessoas altamente autoconscientes procuram, activamente, ampliar e equilibrar os dois eixos. Começando no interno e passando para o externo, continuando a explorar ambos.


Usando a terminologia com que trabalhamos na programação neurolinguística, falamos de características de perfil psicológico – metaprogramas – em que o filtro de referência, onde se procura saber como um indivíduo sabe que fez um bom trabalho, se encontra equilibrado, tem controlo interno e faz verificação externa ou procura informação externa e finalmente verifica-a e valida-a internamente.


Até porque, ao contrário do que se possa pensar, os estudos de Tasha Eurich mostraram que apenas um alto grau de autoconsciência interna não pressupõe uma facilidade de tirar aprendizagens da própria experiência, visto que apenas a introspecção não ajuda o indivíduo a erradicar falsas informações percebidas por si. Quer isto dizer, que apenas pela instrospecção, os indivíduos não, necessariamente, consideram informações dissonantes, que questionam e não confirmam as suas percepções e suposições.

Assim, ao nos dedicarmos exclusivamente à observação de nós próprios a partir apenas do nosso ponto de vista, poderá dar-nos um falso senso de confiança no nosso desempenho e no nosso grau de conhecimento. Daí frisar-se a importância de, permanentemente, obter feedback externo.


Numa avaliação longitudinal conduzida por Anna Sutton, Helen M. Williams e Christopher W. Allinson, sobre autoconsciência no local de trabalho, chegou-se à conclusão que a prática da autoconsciência apresenta vários benefícios, entre ele:

  • Torna os indivíduos mais proactivos, aumenta a sua aceitação das circunstâncias e incentiva ao autodesenvolvimento positivo;

  • Flexibiliza a percepção individual ao incluir-se a perspectiva de outras pessoas, abrindo novos caminhos de aprendizagem e crescimento;

  • Promove o autocontrolo, a regulação emocional, a adequação do comportamento, tornando os indivíduos mais criativos e produtivos, aumentando a sua auto-estima e o orgulho nas próprias conquistas;

  • Melhoria e maior facilidade na tomada de decisão;

  • Melhora a comunicação, aumenta a autoconfiança e o bem-estar geral no local de trabalho.


Elenquei alguns dos benefícios mencionados neste estudo, mas muitos outros poderiam ser apontados. A autoconsciência tem o potencial de melhorar todas, ou quase todas, as experiências da vida. Ao ser uma prática a ser usada em qualquer lugar ou em qualquer circunstância, permite que cada pessoa possa estar ciente do momento em que se encontra, avaliar as circunstâncias, bem como a si mesma, contribuindo para que faça novas e melhores escolhas.


Adoptar práticas e exercícios para o desenvolvimento da sua autoconsciência é uma forma de melhor se conhecer, saber quem é, reconhecer as suas necessidades e entender os seus desejos, identificar os seus pontos fortes e as suas limitações, ter clareza sobre o que quer na sua vida e alcançar os seus objectivos.

A autoconsciência é também uma via de conhecimento de padrões e hábitos nocivos, que têm prejudicado a sua existência plena na vida, sendo por isso, uma via de identificação do que há a melhorar e a aperfeiçoar em si. Autoconsciência e autoaperfeiçoamento são uma dupla inseparável, que anda sempre de mãos dadas.

Práticas como meditação, atenção plena, trabalho corporal, criação de um diário, pedir feedback e outras dinâmicas que envolvam a auto-reflexão e flexibilidade perceptiva, fortalecem a autoconsciência e dão-nos pistas para o crescimento.


O que vai escolher? O que vai fazer para se tornar mais consciente de si?



~ por Joana Sobreiro








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