Várias vezes e em diferentes momentos vem-me ao pensamento a Alegoria da Caverna escrita por Platão. Esta passagem metafórica da obra República inspira-me quando penso no que podemos chamar de despertar ou ampliar o nosso mapa do mundo.
Mas ao relê-la (link aqui), percebi que há uma outra perspectiva também muito interessante em que podemos reflectir.
O mito conta a história de prisioneiros que desde o seu nascimento cresceram acorrentados dentro de uma caverna a olhar para as paredes. Vivem iluminados pela luz de uma fogueira e tudo o que vêem são sombras projectadas. Sombras de actividades do dia a dia, do mundo que acontece lá fora, que representam pessoas, animais, objectos... e os que habitam o interior da caverna têm nomes para o que vêem, fazem julgamentos e emitem opiniões.
Até ao dia em que um dos prisioneiros tem a possibilidade de se libertar das correntes e sair da caverna, tem a oportunidade de explorar o mundo lá fora, entrar em contacto com uma outra realidade e, tomar consciência que tudo o que até então acreditava ser real, eram apenas sombras de uma outra realidade bem mais rica no que podia ser captado pelos seus sentidos.
Até aqui, esta é a história da mente que se expandiu, é a inspiração da mente que se abriu para uma nova realidade, do mundo que se alargou e da percepção mais ampla. E aqui vem a continuação do mito.
Este prisioneiro “libertado” volta à caverna para contar aos seus antigos companheiros tudo o que experienciou lá fora. Se a entrada na caverna for brusca é provável que ele cegue pela diferença de luz.
Interessante a simbologia de ficar cego! Este retorno ao antigo por momentos retira-lhe algo que com a saída da caverna tinha ficado mais aguçado. Mas uma possível falta de certeza de como lidar com tudo o que viu e, sobretudo, a vontade de passar aos outros tudo o que aprendeu faz com que este prisioneiro permaneça na caverna. Lá dentro o que se escuta é a incredulidade, ninguém acredita no que conta, esta nova informação desafia as convicções mais profundas de quem habita o interior da caverna. E o prisioneiro “libertado” vai ser chamado de louco e vai ser ameaçado de morte.
Aqui está um outro interessante momento de reflexão, quando perante a ameaça de morte, temos ou não a coragem de deixar morrer a nossa antiga visão do mundo? Será que é possível deixarmos de ver aquilo que já vimos? Será que a mente que se expandiu pode voltar à forma anterior?
Vamos ficar na caverna junto daqueles com que nos habituamos a viver? Ou vamos sair dela e abraçar o novo? Se escolhermos ficar, o que morre? Se escolhermos sair, o que terá então de morrer?
São só questões! Não encontrei respostas... É apenas uma reflexão!
~ por Joana Sobreiro
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