No último artigo escrevi sobre ganhos secundários (link) e tive oportunidade de referir que podemos estabelecer algumas semelhanças, talvez várias, entre estes e o conceito de intenção positiva.
Para que possamos alargar e aprofundar a nossa reflexão, vamos explorar o pressuposto da PNL que, habitualmente, provoca grande controvérsia num primeiro contacto, por provavelmente ser, no imediato, incompreendido.
Todo o comportamento, mesmo que nocivo, tem na sua origem uma intenção positiva. Ou muitas vezes também apresentado como: Por trás de todo o comportamento há uma intenção positiva.
O que este pressuposto afirma é que, em algum grau e em algum momento, todo o comportamento é ou já foi, positivamente intencionado. Quer isto dizer que, todo o comportamento cumpre ou já cumpriu um propósito positivo.
A intenção positiva é o princípio que explora a ideia de que os indivíduos são agentes autónomos, possuidores de livre-arbítrio, que fazem escolhas e agem, quando essa acção apresenta benefícios para si ou para uma parte de si.
Aceitar esta ideia como pressuposição para a nossa relação com o mundo, permite-nos olhar para nós e para os outros, reconhecendo que mesmo que estejamos a usar estratégias equivocadas ou prejudiciais, elas procuram servir um propósito positivo.
DE ONDE VEM ESTE CONCEITO?
Esta “lente” com que podemos ver o mundo não está generalizada em todas as visões da psicologia. A noção de que as pessoas são movidas por intentos positivos não foi considerada nas teorias predominantes da psicanálise freudiana, nem no behaviorismo.
Freud postulou a noção de que o nosso comportamento é, inconscientemente, dirigido pelas instâncias psíquicas do Id, Ego e Superego (link), enquanto Skinner e o behaviorismo rejeitaram abertamente a noção de livre-arbítrio.
Esta noção surge dentro da psicologia pela mão da corrente humanista, consolidada por Abraham Maslow e Carl Rogers, bem como pela terapeuta familiar Virginia Satir.
Maslow sugeriu que em cada indivíduo se encontra um desejo fundamental de auto-realização (link) e Rogers introduziu o conceito de consideração positiva incondicional, como a teoria que defende que os seres humanos têm um impulso inacto para produzir comportamentos socialmente benéficos, cujo ímpeto está sempre presente em algum nível. Carl Rogers acreditava que cada indivíduo possui uma necessidade de auto-determinação e que, quanto mais esta necessidade for respeitada, mais provável será que apresente desejos inactos socialmente construtivos.
Virginia Satir foi, fortemente, influenciada pela corrente humanista, aplicando o princípio da intenção positiva no trabalho com os seus pacientes. Visto a terapeuta familiar ter sido uma das três pessoas, inicialmente, modeladas por Richard Bandler e John Grinder, na origem da PNL, inevitavelmente, a PNL importou dela parte da estrutura que compõe o seu modelo de mundo.
Ao ser acolhido na epistemologia da PNL, o princípio da intenção positiva bebe, igualmente, influência da disciplina científica da teoria dos sistemas, onde a premissa fundamental é que os sistemas, especialmente os sistemas auto-organizados ou cibernéticos, adaptam-se. A tendência natural de um sistema é manter-se em equilíbrio, optimizando alguns dos seus elementos de forma a assegurar a sua adaptabilidade, com vista à manutenção da sua homeostase e continuidade do próprio sistema.
O QUE ESTE PRESSUPOSTO SIGNIFICA?
Aqui chegados e antes de avançarmos com mais explicações, importa definir de forma mais concreta aquilo a que nos referimos quando falamos de intenções positivas. Falamos de intenções positivas e não de “boas intenções”, pois para as segundas, popularmente diz-se que delas “está o inferno cheio”.
Intenção positiva define um intento ou uma necessidade de se cumprir um propósito mais elevado dentro de um indivíduo, independentemente do comportamento por si apresentado. Pois o comportamento actual é aquele que, até ao momento, melhor serviu a sua intenção.
Todas as nossas acções são motivadas pelo desejo de alcançar algo que valorizamos ou que nos seja útil. O que a PNL faz ao pressupor esta ideia, é separar o propósito ou intenção por trás de uma acção, da própria acção.
Considere os seguintes exemplos:
Imagine alguém que agride fisicamente outra pessoa. A intenção positiva por trás do comportamento agressivo, poderá ser a protecção. Ou alguém que se expressa com raiva, poderá ter um propósito positivo de manter os limites.
Uma mãe que não dorme enquanto o filho não está em casa, pode ter a intenção positiva de se sentir em paz. Ou alguém que controla todos os passos do seu par, pode ter uma necessidade de segurança.
A intenção positiva de roer as unhas poderá ser manter a calma. Ou alguém que devora três tabletes de chocolate, poderá estar a procurar sentir conforto.
A intenção positiva de uma criança que grita, poderá ser receber atenção. Ou de um adulto que se queixa, pode apenas querer ser visto.
Alguém que resiste à mudança, poderá estar a ser fiel a um acontecimento do passado. Ou alguém que não se separa mesmo quando a relação é abusiva, pode querer preservar a família. Procrastinar pode servir a necessidade de perfeição.
À semelhança do que vimos quando explorámos o conceito de ganhos secundários (link), também os sintomas físicos têm um “para quê” e servem um propósito positivo.
A doença de um familiar pode estar a trazer harmonia para os restantes elementos da família. Ou a criança que está sempre doente para que a mãe se sinta importante, poderá ter a intenção positiva da valorização. Uma dor de cabeça constante, pode servir uma intenção de preservação.
Várias são as vezes em que um sintoma ou um comportamento, na sua origem, não tinham uma função ou propósito positivos, ou seja, nas suas circunstâncias iniciais não procuravam satisfazer uma intenção. Nestes casos ocorre um outro tipo de fenómeno, em que após a manifestação de um problema, sintoma ou condição, surgem ganhos secundários. Um exemplo disto é alguém que adoece e, inicialmente, a doença não surgiu como expressão de satisfação de uma intenção positiva, mas com a doença esta pessoa foi acarinhada, recebeu atenção e sentiu alívio. O carinho, a atenção e o alívio podem tornar-se subprodutos positivos da doença, fazendo com que a pessoa atrase a sua recuperação. A continuidade dos sintomas já poderá ser atribuída à satisfação de uma intenção positiva.
É comum que apenas um comportamento sirva múltiplas intenções, um exemplo paradigmático disso, é o fumar. Para muitas pessoas fumar serve diversos propósitos positivos. Há pessoas que fumam pela manhã para acordar ou para pôr o intestino a funcionar, fumam durante o dia para se concentrar, nos momentos de stress para se acalmar, fumam para ter ideias e serem mais criativas, nos dias cheios de trabalho para ter uma pausa e respirar, fumam à noite para relaxar, quando estão com amigos, para se activar. Ou como Robert Dilts relatou sobre o seu próprio pai, fumar representava o único momento e a única coisa que ele fazia, exclusivamente, para si mesmo.
Como pode perceber com estes exemplos que expus, as intenções positivas por trás de cada comportamento ou sintoma podem ser inúmeras e variadas, e em cada pessoa, diferentes. Duas pessoas que não saem do sofá para se exercitar, não possuem necessariamente a mesma intenção, para uma poderá ser o bem-estar imediato, para outra poderá ser manter a sensação de controlo sobre o seu tempo.
É por isso que o pressuposto da intenção positiva se apresenta como um propósito mais elevado e abstracto de um comportamento, para o próprio que o pratica. Não tem uma regra, nem certo ou errado! Trata-se de um mergulho no modelo de mundo de cada um.
AS IMPLICAÇÕES DO PRESSUPOSTO
Por trás de todo o comportamento há uma intenção positiva, não deve ser entendido como uma espécie de optimismo irreprimível, ou os “óculos cor-de-rosa” que nos põem irritantemente alegres, a ver coisas bonitas e a encontrar o bem em tudo por onde passamos. Menos ainda, uma justificação que nos absolve das responsabilidades por possíveis comportamentos nocivos, equivocados, prejudiciais e reprováveis, bem como não aponta nada relativo à qualidade ou à eficácia de um comportamento.
Assim sendo, poderá estar a perguntar-se: “será isto verdade?”, ao que lhe respondo... a PNL em nenhum momento afirma representar a verdade de forma absoluta, é um mapa, um modelo de mundo, não exigindo que acreditemos nas suas pressuposições.
Mas é importante que assumamos que esta noção de existência de um propósito positivo por trás de cada acção, foi e ainda é alvo de críticas. Recebendo objecções como o de ser demasiadamente teórico e filosófico, pouco prático e sem possibilidade de prova.
De facto, não podemos provar que seja verdade e demonstrar, objectivamente, a existência de uma intenção positiva por trás de um comportamento. Daí pressupormos! Da mesma forma que pressupomos que “o mapa não é o território”, pois ao pertencerem à epistemologia da PNL, fazem parte do sistema de crenças basilares, sobre as quais o restante modelo se apoia e desenvolve.
Como explica Robert Dilts, num artigo seu, publicado no website da NLPU “os princípios e pressupostos da PNL são como os conceitos fundamentais da geometria euclidiana. Por exemplo, Euclides construiu a sua geometria sobre o conceito de ‘ponto’. Definindo um ‘ponto’ como uma ‘entidade que tem uma posição, mas nenhuma outra propriedade’, não tem tamanho, massa, cor ou forma. É claro que é impossível provar que um ponto, realmente, não tem tamanho, massa, cor, etc. No entanto, se aceitarmos esse pressuposto, juntamente com alguns outros, poderemos construir todo um sistema de geometria. As conclusões deste sistema podem então ser validadas no que diz respeito à sua aderência aos conceitos fundamentais, mas não provado. É importante que percebamos que não é necessário aceitarmos a suposição de Euclides sobre um ‘ponto’, para criar uma geometria.”
Dilts acrescenta ainda que “aceitar o princípio da ‘intenção positiva’ é, em última instância, um acto de fé. (...) Se aceitarmos que existem intenções positivas por trás de cada comportamento, então iremos encontrá-las ou criá-las, em lugar de esperarmos pela prova da existência de tais intenções.”
A grande chave da PNL é o “e se”, que propõe que poderá ser muito útil e profícuo comportarmo-nos “como se” acreditássemos em certas coisas, para que possamos experimentar novas formas de pensar e perceber o mundo, e com isso, descobrir vias mais proficientes e benéficas de comunicarmos e produzirmos resultados nas nossas vidas.
Qualquer um dos pressupostos da PNL, embora possam ou não ser “verdades” no seu sentido absoluto, convidam-nos a agirmos “como se” fossem verdadeiros para os fins aos quais esta se dirige.
O princípio da intenção positiva, apresenta-nos um caminho para ultrapassar e superar comportamentos disfuncionais e problemáticos, de forma a que possam ser transformados sem prejuízo dos benefícios que proporcionam. Desta forma, transpomos um dos maiores impedimentos da mudança pessoal – o medo de perder algo que é para nós importante, cujos padrões, sintomas, problemas e limitações actuais estão a preservar.
É por esta razão, que a PNL é uma das abordagens mais gentis e ecológicas de promover a mudança e o crescimento pessoal, pois reconhece a importância de promover a mudança preservando os ganhos secundários e as intenções positivas por trás de todos os comportamentos, por mais desagradáveis e disfuncionais que estes possam ser.
Ao aceitarmos este pressuposto e preservarmos o propósito positivo que o comportamento actual está a servir, a mudança poderá ocorrer sem perda.
O facto de assumirmos que um comportamento tem uma intenção positiva, não significa que esse comportamento seja a melhor forma de cumprir a intenção. Assim como, uma intenção positiva pode ser apenas para a pessoa que a possui ou para uma parte dessa pessoa e não, necessariamente, para todas as pessoas.
Dentro dos diferentes pressupostos da PNL, encontramos um outro cuja relevância se torna mais clara após conhecermos o das intenções positivas – A pessoa não é o seu comportamento. O que este axioma propõe é que se separe o comportamento da função que este cumpre, se fique com a pessoa e se mude o comportamento.
Da combinação destes dois pressupostos, resulta a clareza de que para mudarmos um comportamento ou criarmos novas alternativas viáveis, as novas opções deverão satisfazer o propósito positivo do comportamento anterior.
Quando a intenção ou propósito positivo de um comportamento não é satisfeita pelas novas opções geradas, provavelmente voltaremos ao velho comportamento ou, corremos o risco, de produzir outros comportamentos igualmente problemáticos.
Por exemplo, uma pessoa com comportamentos agressivos com outros, ao mudar esses comportamentos, se essa mudança não satisfazer a intenção de se sentir protegida, voltará aos anteriores comportamentos de agressividade, ou poderá começar a agredir-se a si própria.
Ao “ficarmos com a pessoa” assumimos que o que se pretende é ajudá-la a ampliar o seu mapa do mundo, com vista a encontrar novas opções e a fazer novas escolhas, mais apropriadas e funcionais, para satisfazer a mesma intenção.
É por esta razão, que pressupormos a existência de intenções positivas pode ser muito transformador. O objectivo é ajudar-nos a ampliar o nosso mapa, gerar novas opções e aumentar a escolha. Significa isto, que este pressuposto só faz sentido ser considerado quando conjugado com outros elementos, como outros pressupostos, modelos e ferramentas da PNL. Sem o conhecimento e o domínio das técnicas de mudança da PNL, saber se alguém tem uma intenção positiva por trás do seu comportamento, torna-se irrelevante.
Nós estamos interessados em saber, pois o objectivo é direccionar a intenção para um novo comportamento. E como já tive oportunidade de referir, a intenção positiva por trás do comportamento de um indivíduo, é positiva para si mesmo e não inclui, necessariamente, o outro. Nem tem de fazer sentido para outra pessoa.
Intenções positivas, na visão que este pressuposto nos apresenta, são percepções individuais e subjectivas de coisas que são para cada um importantes e que procuram ser satisfeitas através de acções. Um exemplo disso é alguém que faz um assalto, agride e mata outra pessoa, para conseguir o seu dinheiro. Este assaltante poderá ter uma intenção positiva para si mesmo, mas não para com a vítima, cuja intenção poderá ser tão diversa quanto o número de assaltantes que exista, poderá ser poder, justiça, segurança, o bem-estar da família, etc. Ou seja, se perante um propósito de segurança, um indivíduo só sabe roubar outro, usando termos que habitualmente aplicamos na PNL, esta pessoa tem um mapa com poucas opções.
Para lhe dar um outro exemplo menos dramático, alguém que obtém calma ao roer as unhas, enquanto não desenvolver outras vias tão boas ou melhores de satisfazer a mesma intenção, continuará a roer as unhas, logo é portador de um mapa muito restrito de escolhas.
Isto não significa que o comportamento fique justificado e se torne aceitável. Num caso como o exemplo do crime, esta pessoa deverá ser julgada e legalmente punida, mas apenas a punição não lhe dá, automaticamente, mais opções. Logo se no mapa desta pessoa, assaltar, continuar a ser a única opção que tem para satisfazer a sua intenção, é provável que a repita no futuro.
Se o objectivo for dotar este mapa de outras alternativas mais eficazes, funcionais, benéficas e, sobretudo, legais de satisfazer a sua intenção então, inevitavelmente, precisaremos de conhecer o seu propósito. O que queremos é adicionar novas escolhas ao parco modelo de mundo deste indivíduo.
Poderá estar, neste momento, cheio de questões... Lembre-se que não pusemos os “óculos cor-de-rosa” e, obviamente, sabemos de casos terríveis de comportamentos injustificáveis. Mas como já tive oportunidade de referir, não queremos justificar um comportamento, queremos enriquecer um mapa empobrecido.
Ao dar-lhe estes exemplos mais extremos, é possível que se possa ter criado em si a percepção de que este pressuposto só serve para olharmos para os comportamentos dos outros, mas é precisamente o contrário. É, antes de mais, para o aplicarmos a nós próprios e aos comportamentos que queremos mudar. A aplicação a outros, só faz sentido quando quem está do outro lado, quer mudar o seu comportamento. Estamos a falar de mudança futura, não de justificação do passado!
A APLICAÇÃO DO PRESSUPOSTO
Creio que já tenha ficado suficientemente claro as implicações deste pressuposto, bem como a profundidade de reflexão e flexibilidade perceptiva que inaugura, tratando-se de uma forma útil de abordar os nossos próprios comportamentos, bem como os comportamentos de outras pessoas.
Ao adoptarmos esta premissa, damo-nos a possibilidade de encontrar outras maneiras, mais benéficas e funcionais, de cumprir uma intenção. Temos assim a oportunidade de identificar as motivações subjacentes às nossas acções e gerar novas formas de satisfazer essas motivações.
Assim sendo, sabemos que podemos presumir que tanto em nós como em outras pessoas, existem motivações, propósitos e intenções positivas, logo podemos aplicar este princípio em nós e nos outros.
APLICADO A SI
Todos nós, em algum momento, já desejámos mudar um hábito e algum comportamento. Umas vezes fomos bem sucedidos e noutras, não. A razão que o justifica, é que o ser humano irá sempre escolher a alternativa que melhor cumpra a intenção, dentro das escolhas que tem disponíveis em si. E o primeiro passo para gerar mais escolhas é compreender o propósito oculto que um comportamento está a servir.
Tome este exemplo. Suponhamos que grita com os seus filhos, porque quer que eles sejam melhores. Qual será a intenção positiva por trás do comportamento de gritar? Querer exercer uma boa parentalidade e ajudar os seus filhos a darem o melhor de si, podem ser intenções muito válidas. Mas o grito não cumpre, necessariamente, a intenção positiva, mesmo que esteja a tentar cumpri-la, ou mesmo que cumpra, talvez apresente “efeitos colaterais” menos desejáveis e incongruentes (link). Então ao estar ciente de que o que quer é ser um bom pai, ou uma boa mãe e cuidar dos seus filhos, tem a possibilidade de pensar e criar maneiras, mais salutares, de cumprir essa intenção. Ao questionar-se sobre que outras formas tem de ajudar os seus filhos a darem o melhor de si, abre portas para um conjunto de novas possibilidades de acção.
APLICADO AO OUTRO
Quando se trata de aplicar este princípio a outras pessoas, precisamos considerar duas vias. Uma primeira será quando o outro nos pede ajuda para mudar um padrão ou comportamento. Ou seja, o outro reconhece que o comportamento actual não é ok e quer ter mais escolhas. Esta questão é, sobretudo, relevante para profissionais que trabalham com o desenvolvimento humano.
Investigar intenções positivas por trás do comportamento, visa promover e facilitar a mudança, logo aplicar-se-á quando o outro deseja essa mudança.
Uma segunda via, é a aplicação deste pressuposto ao comportamento do outro, mas o beneficiário da nova percepção que daí resulta somos nós. Vou criar um cenário hipotético para exemplificar.
Imagine que vive uma crise na sua relação amorosa, que o deixa em constante tensão e angústia. Apesar de sentir que o seu par gosta de si, não recebe a atenção que gostaria e acredita que o outro já só se mantém na relação pelo conforto da rotina e do hábito, e porque não pára para se questionar. Acusa o seu par de não lhe dar a atenção que merece, não responder às coisas que partilha, não mostrar interesse pelas suas necessidades, não se envolver nas suas ocupações, não se sentar para conversarem e saberem um do outro, como se se tivesse tornado uma “parede” consigo, apesar de com outras pessoas se manter alegre, interessado e conversador.
Com tudo isto, dentro de si cresceu a convicção de que o seu par já não tem interesse, que não quer saber, que já não o ama. A forma como está a interpretar as circunstâncias está a deixá-lo triste e desanimado, começou a isolar-se, questionando a continuidade da vossa relação.
Imagine também que no vosso histórico, sempre que o seu par manifestava uma opinião sobre algum acontecimento, era corrigido por si. Que todas as vezes que partilhou consigo uma opinião, foi repreendido.
Como já tive oportunidade de expor no artigo sobre o Modelo de Comunicação da PNL (link), a forma como codificamos a experiência, influencia o nosso estado emocional, logo o que pensamos interfere no que sentimos, sem necessariamente ser a verdade e ser apenas fruto da nossa percepção. Ao aplicar o pressuposto da intenção positiva nesta situação e procurar saber qual a intenção positiva por trás do comportamento do seu par, poderá descobrir que este está a procurar criar harmonia na relação e está a proteger-se da sua crítica. Que aquilo a que está a chamar de desinteresse é apenas um silêncio que procura satisfazer a própria preservação e o bem-estar do casal.
Esta abertura ao modelo de mundo do outro, muda ou não muda a sua percepção? Certamente, que saber que por trás do comportamento do seu par existe a intenção positiva de se manter forte para garantir a harmonia, muda a sua percepção sobre os motivos que o mantém na vossa relação. Logo ao mudar a forma como pensa sobre o seu par e a maneira como interpreta os seus comportamentos, permitir-lhe-á encontrar novas formas mais construtivas de se relacionarem.
Aqui está mais uma razão que faz com que, muitas vezes, haja resistência em aceitar este pressuposto. Ele exige-nos um nível de consciência mais elevado, que pode estar fora da nossa zona de conforto. Ao reconhecermos os “para quês” de uma acção, não torna os comportamentos certos, apenas permite-nos olhar para as coisas com uma perspectiva mais elevada, mais ampla e alargada.
Então deixe-me perguntar-lhe: Se todo o comportamento tiver uma intenção positiva, o que mudaria na sua percepção? O que seria diferente? Que outras perspectivas e possibilidades se abrem? Que diferenças ocorreriam na sua vida, tanto emocional, como mental, física, social e espiritualmente?
AMPLIAR MAPA É AUMENTAR A ESCOLHA
Uma coisa precisamos assumir, aqueles que acusam este pressuposto de “muito filosófico”, possivelmente, têm razão. O que não desmerece em nada que reflictamos e o exploremos. Afinal para que serve uma vida sem reflexão?
Então o que tenho estado a querer construir consigo, é a noção de que qualquer comportamento ou circunstância do seu estado actual que queira ver mudada, exige um novo mapa, mais amplo e com mais escolhas, para que a mudança ocorra com ecologia.
Para assegurar a ecologia da mudança, precisamos de conhecer as intenções positivas que estão a ser satisfeitas com o estado actual.
As nossas intenções positivas são as coisas que nos dão significado, que são para nós importantes e fundamentais.
Cientes dos nossos “para quês” podemos então gerar novas opções e alternativas de acção, mais alinhadas com aquilo e com o como queremos viver e experienciar-nos. Mas as novas opções e alternativas, estão dependentes de um mapa mental com mais escolhas.
Há um ditado muito conhecido dentro da PNL, cuja autoria desconheço, que diz: “Uma opção, não é escolha alguma. Duas opções, é um dilema. Somente quando uma pessoa tem três possibilidades, é que é realmente capaz de escolher legitimamente.”
Alternativas e escolhas, podem parecer referirem-se à mesma coisa, mas há uma diferença subtil. Alternativas e opções são factores externos a nós, já as escolhas são as preferências que se tornam parte dos nossos mapas mentais. Alguém pode estar perante diversas alternativas, mas nada mudar, por dentro de si não existir escolha. Escolha resulta na capacidade de poder seleccionar internamente a opção mais apropriada.
É por esta razão que todos os modelos de mudança da PNL, procuram reenquadrar o mapa da pessoa que procura a mudança, ou não fosse uma das suas mais curtas definições “reenquadramento”.
Partimos de um quadro com intenções positivas individuais e ampliamos a percepção para gerar mais recursos internos, que levem a uma nova forma de percepcionar, agir e comunicar com a vida. É esta a tríade da mudança: quadro, ecologia e recursos.
Reenquadrar para ampliar a percepção e aumentar a escolha, mais escolha possibilita eleger outras opções, outras opções viabilizam a selecção de novas alternativas e assim, se interrompem os mecanismos disfuncionais do passado e se criam novos resultados no futuro.
~ por Joana Sobreiro
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