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Foto do escritorJoana Sobreiro

TEORIA INTEGRAL

As últimas décadas estão repletas de pessoas privilegiadas, que testemunham um incrível facto histórico – o conhecimento que sempre esteve espalhado pela sociedade, é agora global!

Nunca como agora nos foi possível aceder, com tanta facilidade, às diferentes culturas do mundo. Até há poucas gerações, alguém nascido num determinado canto do globo, muito provavelmente, viveria toda a sua vida dentro da sua raiz cultural, no mesmo espaço geográfico, quem sabe até, na mesma casa.

Independentemente das notáveis excepções, ou não fossemos nós herdeiros da história das navegações, é inegável reconhecer que hoje dispomos de muito mais mobilidade geográfica, quer seja física, quer seja pelo acesso a informação, de qualquer parte do mundo, pela internet, que nos permite estudar em qualquer lugar e conhecer, praticamente, todas as culturas do planeta. Nesta aldeia global, todas as culturas estão expostas diante umas das outras.

Ao reconhecermos que, pela primeira vez e de forma alargada, estamos perante o acesso ao conhecimento global, significa isto que, também pela primeira vez, a soma de todo este conhecimento está disponível para todos. Temos acesso à informação, às experiências e à sabedoria de todas as grandes civilizações humanas, desde a era pré-moderna, até ao momento presente, na pós modernidade. Toda esta linha temporal de conhecimento, atravessou o tempo e tornou-se acessível ao estudo de todos.

Perante este manancial de conhecimentos, podemos aprender sobre o que cada cultura, em cada momento histórico disse sobre o potencial humano e o crescimento psicológico, social e espiritual dos indivíduos.


Além desta impressionante capacidade de aceder a informação e conhecimento, é também verdade, que o mundo nunca foi tão complexo como agora, fazendo com que tanta informação se possa tornar, por vezes, esmagadora.

O mundo do século XXI é, não somente, complexo como se apresenta caótico, com novos e maiores desafios a serem apresentados a cada momento. Tantas visões de mundo, tantas formas de vida, tantas pessoas tão diferentes, estão agora umas diante das outras, a apresentarem um infinidade de perspectivas. Sem uma forma de ligar, compreender, relacionar e alinhar perspectivas, a resposta a este “caos” pode estar comprometida.

Já somos parte de uma comunidade global e para a integrarmos de forma equilibrada, precisamos de um quadro que contenha um visão, também ela, global.

Na premissa de que nenhuma solução se encontra no mesmo nível em que se manifesta o problema, torna-se necessário ampliarmos a nossa visão e desenvolvermos uma meta-posição, que nos dê uma perspectiva com mais recursos. Daí ser tão relevante a criação de uma meta-teoria que procure integrar todas as visões de mundo e, ao mesmo tempo, dar resposta à variedade e especificidades da vida quotidiana, manifesta no dia-a-dia.


Como seria, através do cruzamento e sistematização de estudos e conhecimentos interculturais, usar todas as grandes tradições do mundo para criar um mapa integral, que inclua a essência de cada uma delas?

Como seria, termos acesso à síntese dos factores críticos, aos elementos-chave essenciais e fundamentais para o crescimento humano?

Imagine ser capaz de pegar em todo o conhecimento já produzido sobre o desenvolvimento físico, mental, emocional e espiritual, e destilá-lo num mapa único e abrangente. Como seria, poder usar todo este acervo no seu auto-conhecimento e crescimento pessoal?

Como seria, ter em mãos um modelo com elementos que nos permitam enquadrar diferentes fenómenos da vida e ter respostas sobre como desenvolvê-los?

Foi exactamente isto que Ken Wilber procurou fazer nos últimos 30 anos – a criação de um mapa completo dos potenciais humanos.


Há dois artigos atrás, apresentei-lhe um modelo extraordinário sobre os Níveis de Existência, designado por Spiral Dynamics e mencionei, brevemente, o trabalho de Ken Wilber. Pois bem, não poderia passar pelo trabalho deste homem e não lhe dedicar mais tempo. Assim, apresento-lhe uma teoria, incrivelmente, completa, mas antes de avançarmos, quero falar-lhe do seu autor.


Kenneth Earl Wilber II nasceu em 1949 em Oklahoma, nos EUA e vive, actualmente, em Denver, no estado do Colorado. É filósofo, pensador, cientista e místico, definindo-se a si próprio como um contador de histórias que tratam das questões universais.

Na sua obra encontramos a integração de áreas do conhecimento como ciência, filosofia, política, arte, ética e espiritualidade. Com foco na união entre a ciência e a espiritualidade, Ken Wilber apoiou os seus estudos na sua própria experiência, bem como na de diversos nomes de todas as grandes tradições de sabedoria, tanto orientais como ocidentais.

Apesar de ser considerado como um dos fundadores da Psicologia Transpessoal, desde 1983 que está desligado deste movimento, tendo criado um campo de Estudo Integral, do qual resultou uma nova área da psicologia designado por Psicologia Integral.

O seu trabalho pode ser conhecido através de 27 livros e dezenas de artigos publicados sobre ciência, filosofia e espiritualidade, o que lhe valeu o nome de “Einstein da consciência”.

1998 é o ano em que funda o Integral Institute, cuja missão é a divulgação do Modelo Integral, aplicável às mais diversas áreas, desde a psicologia, à política, à educação, à saúde, à economia, ao direito, à arte, à espiritualidade, entre tantas outras.

Embora os seus estudos se encontrem traduzidos em mais de 30 idiomas, a sua abordagem não convencional, tornou difícil classificar o seu trabalho, colocando-o em conflito com o pensamento actual dominante.


Antes de avançarmos, deixe-me dar-lhe esta nota, há uns 12 anos li Uma Teoria de Tudo, de Ken Wilber e caí para o lado, não percebi nada e senti-me burra. Há uns 4 ou 5, li o seu livro A Visão Integral, já não me senti burra, mas fiquei avassalada. Mas como há poucos meses decidi que iria escrever sobre a Teoria Integral, ao voltar a estudá-la para a resumir num artigo, acho que já a percebi! Tudo isto para lhe fazer um preâmbulo, de que se tratam de muitos elementos, cuja complexidade está no número de variáveis e na profundidade destas, e não na sua dificuldade de compreensão. Por isso, desejo que a minha “tradução” seja de fácil “digestão” para si.



UM MAPA INTEGRAL

Na sua obra intitulada A Theory of Everything, publicada no ano 2000, Ken Wilber propõe uma Teoria Integral, desenvolvida pela síntese e sistematização de uma ampla gama de conhecimentos, a partir dos quais, produziu diversos modelos que resultam dos padrões identificados nas diferentes culturas e correntes de pensamento. Mais do que uma teoria, trata-se de uma meta-teoria, um mapa formado a partir de outros mapas da realidade, que nos permite ter uma nova e mais ampla visão do ser humano e da realidade em que este se encontra. A sua proposta é que cada indivíduo possa viver uma vida mais plena e integrada, neste mundo plural.


O principal pressuposto que deu origem a todo o desenvolvimento da Programação Neurolinguística – “O mapa não é o território” – fala-nos da importância da amplitude e precisão que devemos ter para melhor “navegarmos” no mundo. Ao viajar por terras desconhecidas, quanto mais preciso for o mapa que tivermos em mãos, menor é a possibilidade de nos perdermos e maior é a probabilidade de sabermos onde estamos, a cada momento.

Conhecer os elementos da Teoria Integral dá-nos a possibilidade de nos orientarmos, mais facilmente, nesta maravilhosa jornada de descoberta e despertar que é a vida. Neste mapa poderemos ver-nos a nós próprios e ao mundo de forma mais completa e efectiva, sabendo que apesar disso, continua a ser um mapa e não o território.


O mapa desta meta-teoria integra diversos sistemas que resultam em 5 modelos, que nos ajudam a enquadrar, compreender, analisar e facilitar o crescimento, e a evolução humana. Estes 5 modelos sistematizam padrões fundamentais que se repetem na realidade, e ao tê-los em conta, asseguramos que as “bases” estão identificadas, logo nenhuma parte importante é esquecida ou negligenciada, quando se procura uma solução. Cada um dos modelos pode ser usado para “olhar” para a realidade, bem como em conjunto, formam um quadro que abrange todas as suas variáveis e aspectos.

Sei que posso estar a ser, demasiadamente, vaga! Ainda estou a dar-lhe o enquadramento geral, para que possa compreender a génese do modelo, antes de partirmos para as suas especificidades.


"A palavra integral significa abrangente, inclusivo, não-marginalizante,

abarcante. As abordagens integrais, em qualquer campo, procuram exactamente isso: incluir, dentro de uma visão coerente do tópico, o maior número possível de estilos, metodologias e perspectivas.

De certa forma, as abordagens integrais são ‘meta-paradigmas’, maneiras de unir os diversos paradigmas isolados, já existentes, numa rede inter-relacional de abordagens mutuamente enriquecedoras."

Ken Wilber


O Modelo AQAL (pronunciado ah-qwal), quer dizer “todos os quadrantes, todos os níveis, todas as linhas, todos os estados e todos os tipos”, estrutura-se em 5 elementos que se dividem em 4 quadrantes, em vários níveis, em diversas linhas, em diferentes estados e múltiplos tipos, e todos eles encontram-se, em simultâneo, disponíveis para a nossa consciência.


TODOS OS QUADRANTES

A teoria integral considera que existem, pelo menos, quatro perspectivas basilares à compreensão de qualquer aspecto da realidade – uma perspectiva subjectiva, uma inter subjectiva, uma objectiva e uma inter objectiva. Ou seja, os quadrantes reconhecem que tudo, primeiramente, pode ser visto a partir de duas distinções fundamentais:

  • Uma perspectiva interior e uma perspectiva exterior;

  • e uma perspectiva singular e outra plural.


Do cruzamento destes eixos, resultam então os quatro quadrantes:

  1. Individual-Interior – esta dimensão corresponde ao “eu interno” e tudo o que compõe a experiência subjectiva individual traduzida, por exemplo, nos nossos filtros perceptivos, sentimentos, pensamentos e todo o tipo de cognições;

  2. Individual-Exterior – nesta dimensão encontramos tudo o que corresponde ao “eu externo”, quer isto dizer, o corpo físico e as suas funções biológicas, e tudo o que corresponde à nossa dimensão visível, passível de ser observada por outras pessoas, tal como o nosso corpo físico e as nossas acções e comportamentos no mundo;

  3. Colectivo-Interior – já nesta dimensão voltamos à subjectividade, mas neste caso na relação com o grupo, os efeitos da cultura e as trocas intangíveis dentro de um conjunto de pessoas;

  4. Colectivo-Exterior – a dimensão que corresponde a todas as estruturas e sistemas externos, o meio físico onde o grupo existe e se relaciona. Isto inclui o ambiente físico e qualquer sistema explícito que regule as acções de pessoas em grupo.


Dou-lhe um exemplo que poderá ajudar a concretizar esta ideia! Imagine que quer compreender os componentes e as dinâmicas de um trabalho de grupo bem sucedido. Imagine um projecto, em que um grupo de pessoas esteve a trabalhar e do qual resultou um novo produto de sucesso para a empresa. Para apreender, plenamente, o que esteve envolvido neste processo, precisa ter em conta: os processos cognitivos individuais, ou seja, os elementos disponíveis no interior de cada pessoa, bem como, as crenças culturais partilhadas pelo grupo, tais como valores e visões de mundo (isto remete-nos à dimensão interior-subjectiva, quer individual, quer colectiva). Depois de considerar os elementos internos, precisa igualmente, observar os comportamentos e acções individuais, ou seja, o que cada pessoa fez, assim como às dinâmicas organizacionais, por outras palavras, os recursos tangíveis e os procedimentos da própria empresa (remetendo-nos para a objectividade exterior aos indivíduos e ao grupo).

Resumindo, um grupo de trabalho que teve sucesso no lançamento de um novo produto, é feito de mapas individuais intrapsíquicos de pessoas, de elementos culturais que as ligam, tais como crenças partilhadas dentro de uma cultura, é feito de acções concretas, realizadas por cada uma, num determinado ambiente e sistema social.


Os quadrantes representam quatro dimensões da realidade, através de apectos concretos que estão sempre presentes, em qualquer momento, contexto ou circunstância. Todos os indivíduos possuem experiência subjectiva individual, assim como manifestações fisiológicas e comportamentos observáveis. Acrescido, de que qualquer indivíduo pertence a um colectivo, e dele bebe influencia cultural, bem como tudo ocorre dentro de um sistema social.

Estas quatro dimensões identificam-se com quatro pronomes, cuja tradução do inglês resulta em: “eu”, “nós”, “isso” e “issos”. Cada um deles representando um dos campos do modelo:

  • “EU” – Quadrante Superior Esquerdo (QSE);

  • “NÓS” – Quadrante Inferior Esquerdo (QIE);

  • “ISSO” – Quadrante Superior Direito (QSD);

  • “ISSOS” – Quadrante Inferior Direito (QID).



Olhando agora para este primeiro mapa, podemos verificar que os dois quadrantes da direita (QSD e QID) são caracterizados pela objectividade, deixando os outros dois na dimensão subjectiva. Logo, podemos identificar três esferas de valoressubjectividade, intersubjectividade e objectividade. A estas 3 esferas da realidade, Ken Wilber deu o nome de “O Grande Trio”, que pode ser detectado em todos os principais idiomas do mundo, nos pronomes que representam as perspectivas de 1ª, 2ª e 3ª pessoa.



A relevância deste modelo, é que este nos permite segmentar diferentes qualidades de informação da realidade, sem discriminar nenhuma delas, pois o que estamos a referir, é que a informação identificada em cada um dos quadrantes ocorre em simultâneo. Ou seja, qualquer experiência possui, pelo menos, quatro dimensões indissociáveis e inseparáveis, por serem co-emergentes ou tetra-enlaçadas, nascem juntas e estão mutuamente implícitas.

Significa isto, que para apreciar e compreender, plenamente, um trabalho de grupo bem sucedido, não podemos conhecê-lo e explicá-lo recorrendo exclusivamente a questões psicológicas (QSE), ou fisiológicas, neurobiológicas e comportamentais (QSD), ou a significados culturais partilhados (QIE), ou aos sistemas e dinâmicas sociais (QID). Uma visão completa, compreende todos estes domínios e os seus respectivos níveis de complexidade e profundidade.

Deixar um destes elementos de fora, compromete a capacidade de compreender um fenómeno, bem como a capacidade de encontrar uma solução. Por esta razão, os Quadrantes costumam ser o primeiro modelo a utilizar na análise de qualquer situação.


TODOS OS NÍVEIS

Tendo por base o modelo dos quadrantes, o modelo seguinte apoia-se na ideia de que, em cada quadrante, encontramos diferentes níveis de desenvolvimento. Nos quadrantes interiores-subjectivos, verificam-se diversos níveis de profundidade, já nos quadrantes exteriores-objectivos, encontramos diferentes níveis de complexidade.

O desenvolvimento destes níveis, quer estejamos a falar de profundidade ou de complexidade, ocorre pela exposição à natureza dinâmica da realidade, onde determinadas condições dão forma a diferentes realidades.

A inclusão do modelo dos níveis, acrescenta e afina a compreensão das realidades associadas a cada quadrante.



Ken Wilber deu, também, as estes níveis o nome de ondas, observando que em cada quadrante se apresentam holarquias de ondas. Aquilo a que deu o nome de holarquia, é uma espécie de ordem hierárquica em que cada nível integra e transcende o nível anterior. Para explicar a sua teoria, Ken Wilber usa a ideia de holon, sendo um holon um todo que se torna parte de um todo maior. Assim como um átomo dentro de uma molécula, que por sua vez está dentro de uma célula, que por sua vez está num tecido, que por sua vez está num órgão, etc. etc. etc. Quer isto dizer, que a unidade maior integra a menor, tornando o todo maior do que a soma das suas partes, pois cada novo nível adiciona uma nova dimensão. Caso lhe faça sentido, leia também o meu artigo sobre a ideia de Todo.

Cada onda transporta em si a onda do passado e acrescenta um novo nível de organização e capacidade. Se olhar para o gráfico acima, poderá perceber que em cada quadrante encontra uma escala numérica. Esta ideia de ondas, representam, por exemplo, que uma onda 2 inclui as características da onda 1 e transcende os seus limites, a 3 inclui a 2, transcendendo-a e assim sucessivamente sem, necessariamente, ter um fim. Quer isto dizer, que os níveis de profundidade (QSE e QIE) se encapsulam, acrescentando camadas e novos limites, e os níveis de complexidade (QSD e QID) se expandem, incluindo mais elementos.


Referimo-nos a níveis de existência, através dos quais a nossa consciência evolui ao longo do tempo. Segundo a Spiral Dynamics, que recomendo que a leia num artigo anterior, pois ficará muito mais fácil compreender esta noção de níveis, a consciência e os valores evoluem à medida que vamos sendo confrontados com novos desafios, para os quais precisamos de desenvolver novos mecanismos de adaptação, mais dotados de meios para lidar com complexidades cada vez maiores. Por exemplo, tendencialmente, nascemos no “eu instintivo” e, ao longo da vida, vamos evoluindo e abrindo-nos ao “eu integral”. Por outras palavras, começamos muito focados em nós mesmos e na nossa sobrevivência, e ao longo da vida vamo-nos abrindo aos outros e ao mundo, até à total iluminação e conexão com o universo.



A teoria integral, à semelhança do trabalho de Don Beck, na dinâmica da espiral, utiliza cores para identificar cada um dos níveis de consciência, distribuindo-as num espectro de movimento e ampliação da identidade – do “eu” egocêntrico, para o “meu grupo” etnocêntrico, para o “meu país” sociocêntrico, para o “todos nós” mundocêntrico, para o “todos os seres” planetocêntrico e, finalmente, para o “toda a realidade” cosmocêntrico.

A inclusão dos níveis no modelo integral é muito relevante, pois reconhece que existem diversas camadas potenciais de desenvolvimento, em qualquer domínio da realidade.


TODAS AS LINHAS

Quando falamos de linhas referimo-nos à compreensão e reconhecimento do potencial de desenvolvimento de novas, e diversas capacidades. As linhas de desenvolvimento, descrevem distintas capacidades que são desenvolvidas ao longo dos níveis e de acordo com cada aspecto da realidade, representado nos quadrantes.

Se os quadrantes nos dão o mapa, os níveis dão-nos a noção da sua topografia e as linhas, os caminhos que podem ser percorridos.

Sendo mais explicita, olhemos para o quadrante individual-interior, “eu” (QSE), neste quadrante as linhas correspondem às capacidades cognitivas, emocionais, morais e perceptivas do “eu”, que poderemos traduzir, por exemplo, nas múltiplas inteligências e os seus respectivos graus de desenvolvimento.

As linhas, com a sua noção de inteligências múltiplas, representam áreas específicas em que o crescimento e o desenvolvimento podem ocorrer. Considere alguns tipos de inteligência: a inteligência interpessoal que corresponde à nossa capacidade de nos relacionarmos com outras pessoas; a inteligência emocional, definida pela capacidade de sermos auto-conscientes, regularmos emoções e nos motivarmos; a inteligência cognitiva, que corresponde à nossa capacidade de raciocínio, abstracção e perspectiva; etc. A premissa fundamental desta informação, é que cada indivíduo possui áreas de inteligência mais desenvolvidas do que outras.

Exemplificando, podemos ter alguém cognitivamente desenvolvido, mas não moralmente, ou alguém com muito inteligência musical e nenhuma espacial, ou ainda, alguém com grande sentido estético, mas sem saber relacionar-se.


Para que não pareça que falar de linhas, se refere apenas a variáveis internas do “eu”, importa referir que existe uma enorme variedade de linhas em cada quadrante. No QSD, os caminhos de desenvolvimento são, por exemplo, o crescimento ósseo-muscular, diferentes padrões de ondas cerebrais, a estrutura do sistema neuronal, assim como outras estruturas orgânicas do corpo. No QIE, encontramos o desenvolvimento de diferentes visões de mundo e valores culturais, pontos de vista filosóficos e religiosos, significados linguísticos e dinâmicas intersubjectivas relacionais. Por último, no QID encontramos o desenvolvimento dos ecossistemas, as estruturas geopolíticas, os sistemas socio-económicos e as forças de produção.

Outra informação importante é que toda a linha de um quadrante, possui linhas correspondentes nos outros quadrantes. Por exemplo, quando uma linha cognitiva se desenvolve no QSE, encontramos um desenvolvimento correspondente no QSD, na própria neurofisiologia do indivíduo, bem como no seu comportamento. A mesma mudança irá manifestar-se no QIE, nas suas capacidades intersubjectivas e no seu sistema verbal, nomeadamente estrutura gramatical no QID.

A noção de linhas, permite-nos ter uma perspectiva de que cada indivíduo é uma conjugação única de elementos desenvolvidos e outros em desenvolvimento, que lhe atribuem as suas características e capacidades individuais, e nos mostram os seus caminhos de melhoria e crescimento.


TODOS OS ESTADOS

Estados são expressões temporárias, que ocorrem na realidade. Definem-se à partida como temporários, pois podem durar apenas alguns segundos, alguns dias e, em menor escala, meses ou anos. Outra característica dos estados é tenderem a ser antagónicos e incompatíveis entre si, como por exemplo, ninguém pode estar vestido e despido ao mesmo tempo, ou o mar não pode estar plano na maré vazia e simultaneamente, em maré cheia, com ondas de 3 metros. Ou seja, quando falamos de estados, ou se está num ou noutro, podendo passar por todos, mas em espaços temporais distintos.

Os quadrantes dão-nos o mapa, os níveis dão-nos a noção da sua topografia, as linhas indicam-nos os caminhos que podem ser percorridos e os estados são experiências momentâneas, localizadas e transitórias, em determinados pontos do percurso.


No QSE encontramos os estados fenomenológicos, tais como estados emocionais positivos ou negativos, insights, intuições e percepções captadas a cada momento. Os estados naturais como o de vigília, sonho, sono profundo, observador (onde a consciência testemunha todos os outros estados) e a não-dualidade (onde o observador se dissolve com o que é testemunhado). Estados alterados, que podem ser induzidos externamente pelo uso de determinadas substâncias, ou internamente, como estados meditativos, estados de fluxo, sonhos lúcidos, holotrópicos e experiências de pico.

Alguns destes estados, poderão também eles desenvolver-se, por exemplo, o acesso a estados meditativos pode tornar-se, ao longo do tempo, cada vez mais fácil, modificando a estrutura do indivíduo. Para estes caso, Ken Wilber atribuiu o nome de estágios-estado, para diferenciar dos estágios-estrutura que ocorrem nos níveis. Significa isto, que de facto em ambos os casos se verifica a evolução e desenvolvimento de diferentes estágios, sendo os estágios-estado expandidos horizontalmente e os estágios-estrutura, a crescer verticalmente.


No QSD encontramos estados de tipos de ondas cerebrais, tais como ondas alfa, beta, teta e delta. Estado hormonais relativos, por exemplo, a ciclos de estrogénio, progesterona e testosterona. Estados comportamentais, como rir, sorrir, chorar, tossir e soluçar.


No QIE encontramos estados grupais, traduzidos em histeria em massa, excitação colectiva, pensamento de grupo e mentalidade de rebanho. Estados intersubjectivos, como o vínculo e a relação somática entre um bebé recém-nascido e a sua mãe, ou a ressonância criada por duas pessoas em sintonia. Estados religiosos de grupo, como graça e êxtase partilhados numa experiência comunitária.


No QID encontramos estados do clima, como ondas de calor, tempestades, nevões, nevoeiro e alterações de temperatura. Estados económicos dos mercados financeiros, com subidas e descidas da bolsa, bolhas económicas, recessões, inflacção, etc.


Esta informação é relevante, pois é inevitável que observemos que passamos por diferentes estados ao longo do dia e longitudinalmente no tempo. Qualquer um de nós reconhece que é, perfeitamente, possível passarmos de um estado de paz e serenidade profundas, para a ansiedade provocada por uma notícia. Reconhecer este fenómeno, permite-nos usar a mudança de estados a nosso favor.


TODOS OS TIPOS

Os tipos são o quinto modelo a acrescentar aos anteriores elementos e que nos permitem agregar mais um conjunto de informações relevantes à caminhada pela vida.

Os quadrantes dão-nos o mapa, os níveis dão-nos a noção da sua topografia, as linhas indicam-nos os caminhos que podem ser percorridos, os estados identificam as experiências momentâneas, localizadas e transitórias, em determinados pontos do percurso e os tipos apresentam-nos o estilo do caminhante. Ou seja, alguns caminhantes gostam de correr e farão o caminho mais rápido, outros gostam de ir parando e apreciando o caminho, uns preferirão fazer o caminho sozinhos, outros vão querer ir em grupo, etc. etc. etc.

À semelhança dos outros elementos, os tipos expressam-se em todos os quadrantes.


No QSE encontramos os tipos de personalidade, podendo usar um ou vários dos inúmeros sistemas que mapeiam as diferentes personalidades. Isto inclui, por exemplo, o modelo Big Five, os 4 Tipos de Keirsey, o Myers-Briggs Type Indicator, o Eneagrama ou os Metaprogramas Complexos da PNL. Podemos incluir também aqui, os 4 Temperamentos ou os perfis feminino e masculino.

No QSD temos os tipos sanguíneos, bem como os biotipos corporais, ectomorfo, endomorfo e mesomorfo.

No QIE encontramos os tipos de sistemas religiosos como o monoteísmo, o politeísmo e panteísmo, corporizados no cristianismo, judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo, taoismo, paganismo, xamanismo, etc.

No QID encontramos os tipos de bioma, por exemplo, florestas tropicais, desertos, savanas, padrarias, florestas temperadas, tundra e taiga. Os tipos de regimes governamentais, como democracia, monarquia, aristocracia, tirania, oligarquia, autoritarismo e totalitarismo.

É de grande utilidade conhecermos os diferentes tipos, pois tendem a ser padrões estáveis, mas maleáveis, não tendo estruturas verticais, pois desenvolvem-se horizontalmente e asseguram a sustentabilidade de outros padrões pré-existentes.



A APLICAÇÃO

DA TEORIA INTEGRAL

Conhecidos os 5 modelos da teoria integral, é importante reforçar que os exemplos que lhe fui dando em cada um deles, são exactamente isso, exemplos. Pois o centro do estudo e desenvolvimento desta meta-teoria é o próprio desenvolvimento da teoria e a possibilidade de incluir novos elementos em cada modelo.

O relevante é percebermos que estamos diante de uma abordagem cuja aplicação pode ser feita independentemente da área profissional em que cada um de nós actua e, inclusivamente, nos nossos processos individuais de crescimento pessoal. Ao usarmos o mapa integral, aumentamos a probabilidade de olharmos para qualquer realidade ou acontecimento, tendo em conta todos os seus aspectos, elementos e variáveis, de forma muitíssimo completa.

Apesar de ser uma abordagem que inclui todos os quadrantes, todos os níveis, todas as linhas, todos os estados e todos os tipos, não é obrigatório usá-los, sempre, todos. Independentemente de os usarmos todos, ou apenas dois ou três modelos, vamos assegurar que quer façamos uma análise ou estejamos envolvidos num projecto, ambos comtemplarão uma perspectiva mais ampla e rica.

Recorrer a todos ou a qualquer um destes modelos, aumenta a nossa capacidade de dar resposta à complexidade do mundo, dando espaço a cada aspecto essencial de uma determinada situação.


O modelo AQAL pode ser aplicado de diferentes formas e entendido como:

  • um MAPA – que expõe uma variedade de símbolos e abstracções, que podem ser compreendidos na 3ª pessoa e nos poderão guiar na identificação dos diferentes contornos e nos aspectos, mais importantes, de qualquer situação;

  • um SISTEMA – que cria um espaço mental onde podemos discernir, discriminar, organizar e classificar qualquer tipo de actividade, nossa e de outros;

  • uma TEORIA – que nos permite saber como usar diversas metodologias e os dados por elas fornecidos;

  • uma PRÁTICA – não se tratando meramente de uma teoria sobre inclusão, é sim um conjunto de práticas que permitem incluir e correlacionar as mais diversas abordagens e metodologias geradoras de conhecimento em toda a humanidade;

  • um CATALISADOR – pois permite varrer todos os cantos e recantos da mente e corpo, iluminando todo e qualquer potencial que não esteja a ser plenamente, ou de todo, utilizado. Desocultando potencial latente e apontando vias de crescimento;

  • uma MATRIZ – combinando os cinco modelos de modo a criar um espaço de potencialidade, a partir do qual uma mais ampla expressão da realidade pode ser considerada e manifestada.


A capacidade de identificar o que as coisas são, entender limitações e potenciais de conflito, e saber quais os próximos passos para o desenvolvimento, torna tudo mais claro e fácil.

O mais fascinante desta teoria, é que contrariamente ao que mais vemos hoje, ela não nos dá um receita pronta, logo elimina a falácia de que o crescimento individual e/ou colectivo pode ser consumido em jeito de fast-food. A Teoria Integral dá-nos a capacidade de, individualmente, criarmos as nossas próprias receitas.



~ por Joana Sobreiro





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